Goiânia - Túlio continua a mesma maravilha de marqueteiro de sempre. Um dos melhores comunicadores entre os artilheiros brasileiros em todos os tempos –talvez só perca para Dario, o Rei Dadá–, o atacante chega pela segunda vez ao Vila Nova com um sonho: dar um título ao colorado antes de sair do clube –há uma grande possibilidade de uma transferência para o exterior. Para garantir o troféu, ele aposta já na Copa do Centro-Oeste, na qual o time estréia nesta quarta-feira, contra o Juventude, de Primavera do Leste (MT).
Atribulado com a chegada e a programação dos patrocinadores, o artilheiro não treinou e está fora da partida desta quarta. A estréia fica para domingo, contra a Anapolina, na abertura do Campeonato Goiano para o Vila. Na entrevista abaixo, Túlio expõe um ressentimento com o modo como saiu do Botafogo, o tratamento dado por alguns treinadores a seu futebol e aposta num futuro promissor em tempo-relâmpago para o seu "clube do coração": "Com o centro de treinamento e a nova estrutura que está formando, o Vila Nova vai se transformar numa potência daqui a seis meses, já para o Brasileiro, assim como aconteceu com o São Caetano."
Você está pronto para jogar?
Pronto. Lógico que não estou 100%, mas acho que ninguém está neste início de temporada. Mas, se quisessem que eu jogasse amanhã (quarta-feira), já estaria à disposição para uns 30 minutos.
Era a hora de retornar ao Vila?
Acho que sim. Foi uma porta que se abriu, porque deixei boa impressão na última passagem. Tenho uma dívida com o Vila, que é dar um título para o clube. Apesar de ter sido pouco tempo em 1999, quase chegamos lá, vamos ver se agora dá.
Que título seria esse, Copa do Centro-Oeste ou Goianão?
Pode ser qualquer um dos dois, não posso é passar em branco. De preferência, os dois, se der.
A cláusula contratual que pode lhe tirar do Vila a qualquer momento não incomoda?
Não, isso já está todo mundo sabendo, não é segredo para ninguém. É uma praxe do futebol brasileiro e mundial. Pior seria se fosse uma transferência para um outro clube do Brasil, o que, aí sim, seria um desrespeito ao Vila Nova.
O seu pensamento agora está voltado só para o Vila?
Claro, essa questão não me atrapalha. Desde o momento que assinei com o clube, saldaram a dívida comigo e estão em dia, o meu pensamento é Vila Nova, Copa do Centro-Oeste e Goianão. No momento, a cabeça está voltada para ficar aqui em Goiânia e trazer as minhas filhas (que estão no Rio) para cá.
O amor à camisa do Vila pesou na sua escolha?
Pesou, sim. Antes do Vila, tive uma proposta para jogar no Coritiba, outra de um daqueles clubes do Rio lá, Madureira, Volta Redonda, sei lá. Falei que não, que para eu sair daqui (do Botafogo), só para o meu time de coração.
O seu ciclo no Botafogo acabou desta vez?
Acabou, o Botafogo faz parte do passado. Foram 171 gols com a camisa do clube, 222 jogos, títulos brasileiros e internacionais. Agora, no Brasil, é só Vila Nova. Só me interessa sair daqui para fora. Pela estrutura que está se formando, o Vila daqui a seis meses, se continuar assim, já no Brasileiro vai ser uma potência como o São Caetano.
Você esteve por três vezes no Botafogo. A primeira foi muito boa e você se tornou ídolo. As duas outras, nem tanto. Você sai magoado de lá?
Magoado, não. Saio com a sensação de dever cumprido. Fiz o que pude até quando me deixaram. Se não quiseram assim, paciência. É só não esquecer que o último título que eu dei foi para eles, no Rio–São Paulo, em 1998. O relacionamento com a torcida continua bom, ela tem um carinho muito grande por mim.
A forma como você saiu de lá te deixou com esse sentimento?
É, me senti assim. Pela falta de memória, pela falta de respeito a um ídolo, pela história que eu tinha no Botafogo, eu acho que eles agiram amadoristicamente.
Você acredita que sofreu perseguição por parte de alguns treinadores?
Alguns, sim. O tal do Levir Culpi, o tal do Nelsinho Baptista, mas já foi tudo superado. No Botafogo, recentemente, o Antônio Clemente também me prejudicou, vamos dizer assim, taticamente. Ele achou que o meu estilo de jogo não cabia no esquema dele. É isso o que acontece, tanto é que, onde me deram liberdade, como no São Caetano, marquei gols e fui artilheiro.
O Túlio Maravilha tem futebol para mais quanto tempo?
Três anos. Com 35 anos bem jogados, vou parar no auge, com um título, de preferência aqui no Vila Nova.
O que representa hoje o Goiás na sua vida?
O Goiás? Bem, o Goiás foi o berço de tudo isso, onde me projetei e apareci para o Brasil e para o mundo. Devo tudo ao Goiás pelo início da minha carreira. Só saí magoado por eles terem me forçado a assinar um termo em que eu abriria mão dos 15% (relativos à transferência para o Sion, da Suíça). Não só eu fiz isso, mas vários jogadores do Goiás na época. Isso foi minha única mágoa com os dirigentes do Goiás. Daí para cá, manifestei que eu era vilanovense, melancia (verde por fora e vermelho por dentro), o que é verdade. Doa a quem doer, sou um torcedor também e tenho as minhas preferências.
E quanto à proposta de posar nu para a revista G Magazine?
Não, não há nada. A gente não acertou o cachê e ficou para uma outra oportunidade. Vamos deixar isso mais para a frente.
Você continua prometendo gols?
Continuo, mas primeiro eu faço para depois dar nome.
É mais seguro assim, né?
(risos) É mais seguro e não desperta tanta raiva e fúria nos adversários. Quando eu fazia esse tipo de coisa antes, tinha gente que via como forma de provocação.