Porto Alegre - Um dia depois de responder com gols decisivos os xingamentos dos torcedores do Grêmio, comandando a virada de 2 a 1 sobre o Figueirense, Ronaldinho aceitou falar sobre a incrível noite em que foi vaiado no próprio Olímpico.
Antes de levar o sobrinho Diego para cortar cabelo no shopping, fez uma revelação. Assinou o pré-contrato com o Paris Saint-Germain (PSG) agora em janeiro, depois de esperar bastante tempo – já que seria o dono do passe – uma proposta como a anunciada pelo clube recentemente (R$ 28 milhões por dois anos de contrato). Em seguida, assinado o documento, comunicou o clube oficialmente.
"Não enganei ninguém. Não teve nada disso de assinar pré-contrato e esconder das pessoas. Avisei a direção assim que assinei. Se o Grêmio tivesse me procurado com esta proposta que foi dita, claro que seria diferente. Queria ficar, claro, mas sou profissional e tenho que tocar a minha vida, não dá para ficar esperando", explicou o artilheiro, sem alterar o tom de voz, calmamente.
Na hora de falar do sentimento de entrar em campo e receber raiva de parte da torcida, entretanto, o rosto de Ronaldinho muda. Dá para perceber. Ele nega, com veemência, que não tenha conseguido dormir ou realizado alguma preparação especial para enfrentar psicologicamente a experiência sem mostrar abatimento. Sim, pois, o goleador, afinal, decidiu a partida com o seu talento, como vinha fazendo sempre.
Jurou ter agido como em todas as outras partidas. Mesmo que tenha sido tomado por um sentimento de mágoa, tentou o possível para não dar o braço a torcer. Só fez questão de revelar um aspecto: a solidariedade do resto do time. "Eles deram muita força, me apoiaram. Devo agradecer aos meus companheiros", disse.
Quanto a responder às agressões, silenciou. Chegou a jurar sequer ter visto as moedas atiradas na pista atlética. Disse que sempre tratou a todos da mesma forma no Olímpico, do “presidente ao faxineiro”, e não seria agora que iria mudar – o que, de fato é verdade.
Ronaldinho sempre deu presentes de Natal para os funcionários, antes e depois da fama. É comum ouvir a frase “esse não se esquece da gente” na boca dos trabalhadores anônimos do Olímpico. Chega a ficar uma hora, depois dos treinos, brincando com os gandulas, que esperam ansiosamente o final das atividades para bater bola e fazer competições de embaixadas com o craque. Certa vez, enfrentou até chuva para não desapontar os garotos. Na hora de marcar entrevistas de caráter especial, é comum ouvir de Ronaldinho a pergunta “quando fica melhor para ti?”, em vez da velha desculpa da agenda atribulada.
"Acho melhor tentar compreender as vaias. Paixão e ódio são sentimentos muito próximos. Para mim, não vai mudar nada. Vou seguir jogando e ajudando a Grêmio a vencer, como sempre fiz", disse o atacante.
E lá se foi Ronaldinho levar o sobrinho Diego para cortar o cabelo no shopping, pagode a todo volume no carro. O Ronaldinho de sempre.