Porto Alegre - Em uma cartilha de capa vermelha distribuída aos conselheiros na eleição de Jarbas Lima para a presidência, os movimentos Interação e Inter 2000 – na época de oposição – planejavam um Inter vitorioso como time e como clube, finanças saneadas, gestão empresarial e científica e vitórias e títulos em campo.
Passado o primeiro ano de comando dos dois movimentos no Inter, uma comparação da cartilha com a prática mostra que, se teve sucesso na aplicação de alguns modelos administrativos, o mesmo rigor está demorando a gerar frutos no futebol, que completou mais um ano sem títulos.
O Inter se equilibra entre um modelo que pretende transformar o clube em uma empresa bem administrada e a insatisfação dos exigentes consumidores de um produto sui-generis: o futebol. As dívidas em torno de R$ 9 milhões estão sendo reduzidas, mas ao custo de vários cortes e restrições para equilibrar o orçamento, como o estabelecimento de patamares salariais para jogadores (cerca de R$ 30 mil mensais) e o fechamento do vitorioso futsal, campeão brasileiro, sul-americano e mundial.
O clube tem agora um reconhecido método científico de análise de seus atletas, mas o futebol profissional disputou quatro competições sem chegar à final de nenhuma e está em má situação na Copa Sul-Minas deste ano. Tem dificuldades para fechar uma parceria e gerar receitas por outras fontes, como o licenciamento de produtos e o patrocínio do novo uniforme.
”Acabamos atrasando o contato com a Fundação Getúlio Vargas, e quando foi finalizado o estudo do valor da marca, fomos envolvidos pela situação do futebol, com a questão da Lei Pelé e as CPIs do Congresso”, justifica o vice-presidente de marketing, Fábio Bernardi.
No futebol, a atual direção apelou novamente para as vendas de jogadores, procedimento de gestões anteriores muito criticado. A ausência mais sentida em 2001 é a do zagueiro Lúcio, vendido ao Bayer Leverkusen, da Alemanha.
O dinheiro da venda, entretanto, pôde ser usado para que a situação financeira do clube tivesse um respiro. O valor obtido pelo jogador, convocado para a Seleção Brasileira, foi de US$ 9,5 milhões, do qual o clube só ficou com US$ 4 milhões, dividindo o restante com o empresário dono de parte do passe do zagueiro.
Na questão da transferência do Lúcio havia um detalhe que ninguém lembra: ele já tinha sido mantido aqui durante 2000, quando já havia proposta no final de 1999. E não tivemos como prender o jogador aqui porque ele realmente queria ir – explica o diretor de futebol, Márcio Abreu.