Porto Alegre - Faltam dois anos ainda para terminar o mandato, é verdade. Há, portanto, algum tempo. Mas a gestão do presidente José Alberto Guerreiro vai ter de correr contra o calendário para cumprir promessas anunciadas, principalmente depois do acordo de parceria com a ISL.
A maioria das obras do Olímpico multiuso (lojas, restaurantes, museu virtual, estacionamento com mais de um andar, assentos em todo o estádio...), sequer começou. Em Eldorado do Sul, há apenas os campos, que já existiam. O CT com infra-estrutura que incluiria até hotel, anunciado como prioridade pela parceria, está à espera. Vale o mesmo para a formação de equipes de futsal, basquete, vôlei e até patrocínio de tenistas e remadores.
Desde que a mais poderosa empresa de marketing esportivo do mundo aportou no Olímpico – o contrato foi assinado oficialmente em 15 de setembro de 2000, mas o acordo ocorreu no final de 1999, com o Grêmio já recebendo verba – , a palavra campeão sumiu do mapa. A Copa Sul de 1999, sem a presença dos times de Minas Gerais, e o Gauchão do mesmo ano, foram faixas conquistadas, ironicamente, no tempo de vacas magras. Que parece ter voltado em 2001, depois dos investimentos milionários do ano passado.
”Vamos ingressar no ano 2000 com um time em condições de competir com qualquer outro do mundo”, prometia Guerreiro, ao anunciar o acordo com a ISL, em novembro de 1999.
O que se vê atualmente está um pouco distante do sonho do presidente. Os gastos de 2000 forçarão o clube a fechar as torneiras em 2001. Os dirigentes não falam no assunto, mas o orçamento estourou. Os R$ 2,1 milhões repassados mensalmente não cobrem despesas contraídas com o chamado time dos sonhos, que agora está terminando, pelo menos em termos salariais. A ISL não pretende dar um tostão a mais do que o acertado para o futebol. Por isso, há salários atrasados.
”Temos algumas pendências, sim. Posso dizer que há atraso com relação a alguns jogadores, não todos”, admite Dênis Abrahão, diretor executivo, indicado pelo Grêmio e aprovado pela ISL.
No contrato de 15 anos da parceria, a ISL promete repassar ao Grêmio US$ 40 milhões para o futebol e US$ 20 milhões para obras.
Além do corte radical da folha salarial gerado com as saídas de Paulo Nunes (R$ 200 mil), Astrada (R$ 120 mil) e Amato (R$ 80 mil), a rescisão de Zinho (R$ 200 mil) também diminuirá gastos. Rodrigo Costa, que ganhava R$ 17 mil, foi para o Santos. O multicampeão Mauro Galvão, dono do próprio passe, ganhará R$ 60 mil mensais. Marcelinho veio do Olympique, da França, mas será pago em 28 parcelas. A salvação seria a venda de Ronaldinho, mas a assinatura do pré-contrato do craque com PSG tornou esta fonte de receita um ponto de interrogação.
O clube teve de recorrer a adiantamentos de receita. Uma delas refere-se ao Gauchão. A ISL não gostou muito da iniciativa, pois as cotas de televisão fazem parte da sua parte no contrato, assim como as rendas. Antes, o clube controlava as roletas eletrônicas em dias de jogo. Agora, a ISL resolveu tomar conta do borderô. Mas Guerreiro e o presidente da ISL no Brasil, Wesley Cardia, negam existir atritos.
”Fosse assim, não teríamos contratado o Marcelinho”, diz Guerreiro, apesar de as obrigações mensais com o jogador serem inferiores ao dinheiro economizado com a debandada das estrelas.