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Felipão diz que ser campeão mundial é seu maior sonho
Segunda-feira, 12 Fevereiro de 2001, 01h18
Atualizada: Segunda-feira, 12 Fevereiro de 2001, 01h22

Belo Horizonte - A 30 dias da estréia do Cruzeiro na Copa Libertadores da América, quando enfrenta o Sporting Cristal, no dia 14 de março, em Lima, no Peru, o técnico Luiz Felipe Scolari considera fundamental para o êxito da equipe na competição a combinação de fatores como a qualidade técnica, a competitividade e união do grupo. "É preciso ter um grupo de jogadores voltados para a disputa da competição. E, principalmente, com espírito de grupo", argumenta o treinador.

Ele não esconde a expectativa pela estréia na Libertadores, a competição mais importante sul-americana, e acredita que somente nos últimos dez anos os times brasileiros se imbuíram do espírito de luta do torneio. "Os argentinos já têm há muito tempo esse espírito de Libertadores", explica o técnico, para quem brasileiros e argentinos são, teoricamente, favoritos ao título desta temporada. Diz ainda que sonha com o tricampeonato da Libertadores _ que venceu em duas ocasiões: com o Grêmio, em 1995, e o Palmeiras, em 1999. E fará de tudo para levar o Cruzeiro também ao seu terceiro título na competição.

Com isso, ele espera, em pouco tempo, ter uma equipe no ponto para a disputa da competição. Scolari também não esquece da disputa do Campeonato Mineiro, principalmente pela rivalidade existente com o rival Atlético, atual bicampeão. Sobre Belo Horizonte, Scolari garante que está bem adaptado à cidade. "É uma cidade grande, mas ainda pequena. O trânsito, por exemplo, daqui é legal e não maluco como o de São Paulo", ressalta o técnico, que, aos poucos, vai se rendendo ao estilo mineiro, desconfiado e fala mansa.

Para se conquistar uma Copa Libertadores da América é preciso ter uma equipe de qualidade técnica, espírito coletivo e raça, necessariamente nessa ordem?

Não necessariamente nessa ordem, mas com todos esses ingredientes. Para conquistar uma Libertadores é preciso ter uma equipe competitiva, com qualidade e com o pensamento voltado para as dificuldades da competição. Tem que conhecer algumas coisas extra-campo, a mudança de arbitragem é muito grande. E tem que ter espírito de grupo perfeito.

A Libertadores é prioridade do clube e dos torcedores, que querem ver o Cruzeiro como primeiro time brasileiro a conquistar o tricampeonato da competição. Isso aumenta a responsabilidade?

Não aumenta. Porque também queremos ser campeão da Libertadores. Já conseguimos duas Libertadores em times que trabalhamos e gostaríamos de ser tricampeões. E vamos trabalhar para isso. Vai ser trabalhado, principalmente, o espírito de vencer, uma dinâmica para vencer, mas pode ser que tenhamos equipes melhores. E pode ser que, em determinado momento, nós não sejamos a equipe qualificada.

Existe favorito? Sempre que começa a Libertadores, duas equipes brasileiras, das quatro que disputam, vão se sobressair. Se estivéssemos entre os oito classificados, eu te afirmaria hoje, categoricamente, que dois argentinos e dois brasileiros estariam entre eles. Certeza absoluta, como dois e dois são quatro; e se não for mais. O argentino tem o espírito de Libertadores, nós estamos criando esse espírito nos últimos dez anos. Mas ainda temos algumas diferenças que os argentinos sabem trabalhar bem: campo, espírito, arbitragem. Nós sofremos muito, porque temos um outro estilo de condução de jogo.

Como a equipe vai adquirir entrosamento para a Libertadores se a cada jogo tem uma escalação diferente?

Naturalmente não vou jogar na Libertadores com a mesma equipe e os mesmos jogadores todos os jogos. Se você olhar as equipes que vencem a Libertadores, sempre tem, de um jogo para outro, substituição por lesão ou cartão. Daqui para frente, a cada jogo vou modificar no máximo dois ou três jogadores, independente de posição. Para que todos tenham as mesmas condições no momento de jogarem uma partida. Se precisar de um jogo para outro, de uma quarta para o domingo, modificar em três posições, a equipe está preparada e não vai sofrer nada.

Voltar ao Japão para a disputa do Mundial Interclubes é atualmente seu maior sonho?

Naturalmente. Estivemos lá duas vezes e perdemos. Uma nos pênaltis (o Grêmio foi derrotado pelo Ajax, da Holanda) e uma no jogo direto, num crime, porque a equipe do Manchester não foi melhor do que a do Palmeiras (1 a 0 para o Manchester).

Como o senhor analisa as negociações frustradas para trazer jogadores como Rogério e Marcelinho Carioca, que seriam suas indicações para esta temporada?

Os dirigentes tentaram, mas não deu certo. Primeiro pelo valor financeiro. Os valores não batem com o que o Cruzeiro entende ser a realidade do futebol brasileiro. O Cruzeiro já trabalha com uma possibilidade de, no futuro, uma mudança na estratégia de valores, de grupo. Já passamos à direção do clube alguns nomes de jogadores desse grupo que poderão ser incluídos em transações. Porque temos três, quatro numa posição e os gastos deverão ser menores. O Rogério foi mais uma situação de birra do Corinthians, porque entenderam que o Müller não foi bem. Ninguém pode dizer que se o Rogério viesse seria útil ou não teria uma lesão, foi mais uma coisa pessoal. O Rogério não esbarrou numa situação financeira, não. Tentamos outros jogadores com qualidade, mas não conseguimos devido aos valores dos passes. O grupo é bom, mas precisaríamos de mais um com grande qualificação técnica para realizar aquilo que desejamos.

Esse grupo é suficiente para fazer uma campanha vitoriosa neste primeiro semestre, principalmente em se tratando de Libertadores e Campeonato Mineiro?

É um grupo de boa qualificação. Se pudesse fazer uma contratação, faria de um jogador específico que fizesse aquilo que desejo com a bola parada.

O paraguaio Arce seria o ideal?

Seria o ideal. Mas os valores não batem e não adianta a gente ficar sonhando.

O senhor tem um time ideal?

Tem determinada época que, depois de um tempo de trabalho, acaba-se tendo uma equipe no ponto, o time ideal. Teve uma época no Grêmio, em 1995. Do início ao fim. Tinha o Adílson, o Arce, o meio-campo compacto, o ataque com Paulo Nunes e Jardel. As jogadas fluíam naturalmente. Teve um tempo no Palmeiras de janeiro a junho de 1999 a equipe era o ideal. Tanto os titulares quanto os reservas. As coisas fluíam muito bem. São situações que só se vive depois de certo tempo no ambiente de trabalho. Acho que o Cruzeiro pode chegar a uma situação boa, quase ideal a partir de março em diante.

O senhor é conhecido por suas exigências dentro e fora de campo. O jogador precisa ter um comportamento exemplar fora dos gramados?

Eu não cobro o exemplar, cobro o normal. O jogador vive do seu corpo. Quando ele está bem fisicamente, ele rende. Para estar bem fisicamente, ele não pode dormir às três da manhã para treinar às nove horas. Ele não pode ter três famílias ao mesmo tempo; ele não pode se dedicar a duas religiões ao mesmo tempo.

Você tenta influir em outros setores do Cruzeiro (categorias de base, formação de jogadores)?

Procuro realmente participar dos projetos e formação das equipes. E da possibilidade desses jogadores ficar no clube trabalhar com os profissionais, jogando nos juniores. Às vezes, trabalhar e ser emprestado para equipes de médio porte e ganhem experiência e adiantem um ano de seu trabalho.

Como está sendo sua relação com a cidade?

Muito boa, diria ótima. Embora não tenha tido nenhum problema nas cidades e com os povos que convivi. Alguns falam que na Arábia é difícil viver. Vivi com minha família e convivi maravilhosamente, tenho grandes amigos. Tive três anos no Kuwait e outros três na Arábia. No Brasil, já estive em Santa Catarina, Goiás, São Paulo, Alagoas, Rio Grande do Sul. Fiz amizades com o povo. Em Belo Horizonte, estou contente e minha família, satisfeita. É uma cidade grande, mas, como costumo dizer, ainda é pequena. Porque a gente vê tanta coisa boa. Eu que convivi com aquele trânsito maluco em São Paulo, aqui vivo em um trânsito legal. Para vocês parece ruim, para mim é ótimo. A gente se acostuma com algumas diferenças. Sempre estive nesses lugares acompanhando da família. Hoje

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