Rio - Zagallo é um misto de experiência, sabedoria e malandragem, que culminam numa carreira profissional de 52 anos recheada de glórias. Um dia após a conquista de sua 6ª Taça Guanabara, o Velho Lobo jogou a tradicional partida de tênis, bebeu um chope gelado e almoçou com a família para comemorar o título. Nesta entrevista, ele rechaça o rótulo de ultrapassado e se coloca imune a cobranças devido ao vitorioso currículo.
Contra Vasco e Fluminense você fez questão de passar o favoritismo para os adversários e venceu. É uma tática?
Zagallo: Não fiz isso por demagogia. Tecnicamente, o Fluminense tinha ótimos valores que poderiam desequilibrar. Mas o Flamengo teve aplicação, superação, raça.
Agora o favorito é o Flamengo?
Z: De jeito nenhum. O favorito é o Vasco, que tem Romário e outros craques. Vamos correr por fora. Vamos para o segundo turno com o Petkovic retornando aos poucos, e teremos o Edílson. Vamos somar esses jogadores ao amadurecimento da garotada.
O time está longe do ideal?
Z: Temos que melhorar muito. O time está longe da minha realidade.
O que foi fundamental para o time conquistar a Taça GB?
Z: Depois dos tropeços, o presidente Edmundo Santos Silva fez um pedido oportuno. Nos fechamos naquela reunião e nos fortalecemos muito.
Esta reunião não foi para analisar seu trabalho e cobrar resultados?
Z: O futebol é feito de títulos, vitórias. Mas cobranças em cima de mim estão fora do carteado. Não existe ninguém com mais títulos na carreira. Se não estiverem gostando do meu trabalho, não me cobrem, digam adeus. Cobranças eu não aceito porque o meu troco é muito grande.
Você fica magoado quando dizem que está ultrapassado?
Z: Não faço auto-crítica. Mas a minha presença num time é motivo de orgulho. Ninguém tem resultados mais expressivos. Não tem nada ultrapassado quando se tem discernimento, inteligência e cabeça para trabalhar.
Como ficou seu coração na decisão por pênaltis?
E: Nunca vi uma decisão por pênaltis assim. Foi um gol lícito com a mão divina. O gol de mão do Maradona na Copa de 86 foi visto pelo mundo, esse não. Foi uma emoção indescritível. O coração passou no teste. Ainda mais porque não viro o rosto nos pênaltis, encaro de frente.
Nos pênaltis, você pediu para a imprensa sair. O que disse ao time?
Z: Fui passar tranqüilidade aos meninos. O Reinaldo não queria bater. Conversamos, ele foi bater e fez o gol. É preciso passar confiança.