Rio - O ex-conselheiro do Flamengo Paulo César Ferreira prestou depoimento nesta quinta-feira na CPI do Senado, que investiga supostas irregularidades no futebol brasileiro. Ferreira criticou muito o contrato assinado entre o clube e a empresa suíça ISL, pois acredita que existam enormes irregularidades nele, uma vez que a dívida do clube vem aumentando.
Ao fim do depoimento, o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), anunciou que vai reapresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal dos clubes Vasco e Flamengo, dos dirigentes Eurico Miranda, do Vasco, e Edmundo Santos Silva, do Flamengo, e das federações paulista e carioca de futebol.
Ferreira ameaçou levar o contrato à Justiça caso as suspeitas levantadas por ele em relação a diversas contratações milionárias feitas pelo Flamengo junto a clubes do exterior e sobre contratos com patrocinadores não sejam apuradas. “A ISL foi contratada para zerar a dívida do clube, mas está é levando seus ativos”, afirmou Ferreira.
Sobre a contratação de reforços a preços milionários, Paulo César Ferreira chegou a cogitar a suspeita de que os contratos eram firmados em paraísos fiscais para evitar o pagamento de impostos. “Não tenho nada contra a realização de negócios em paraísos fiscais, desde
que sejam legitimados”, afirmou Ferreira.
Durante o depoimento Ferreira fez uma análise do balanço financeiro do clube. Ele alertou que o clube está num estado de insolvência. O ex-conselheiro lembrou que os gastos do Flamengo com jogadores famosos impedem que o clube salde suas dívidas, estimadas em R$ 200 milhões.
Ferreira lembrou que o estatuto do clube não contém nenhuma advertência ou ameaça aos dirigentes que prestarem depoimento à CPI.
Diante das denúncias apresentadas por Ferreira, o relator da CPI, senador Geraldo Althoff (PFL-SC) revelou que vai solicitar ao clube informações específicas sobre pagamentos a terceiros no ano 2000. Althoff lembrou que já encaminhou a 14 clubes de futebol, incluindo o Flamengo, requerimento de cópias das demonstrações financeiras e contábeis completas do período de 1995 a 2000.
O senador quer entender o porquê do clube se negar a ter seu sigilo bancário e fiscal quebrado. Mas Ferreira já tinha respondido essa pergunta durante o depoimento. “Estou certo de que a maioria dos homens que passaram pelos clubes, se não ganhou dinheiro, ganhou notoriedade na vida pública”, afirmou Ferreira, lembrando também que tem muitos parentes de dirigentes trabalhando no clube.
Sobre o depoimento de Ferreira, Álvaro Dias disse ter percebido denúncias de incompetência administrativa, desvio de finalidade, evasão de divisas e crime contra a ordem tributária e o sistema financeiro nacional.
Ao ser entrevistado depois do depoimento, Ferreira lembrou que falou apenas em má gestão administrativa, fiscal e contábil por parte do clube. Ele evitou falar em desonestidade dos atuais dirigentes, por não ter provas para fazer acusações.