Rio - Pagar por fora, que provoca lesão ao INSS e ao Imposto de Renda, é prática comum no futebol. Mas, em 1997, o Bahia foi além. Não só pagou por fora, como registrou em documento do próprio clube. O "por fora" era oficial. Segundo documento obtido pelo jornal LANCE!, o Bahia pagava metade do salário do técnico Jair Pereira, que trabalhou durante quatro meses no segundo semestre, sem registrar na Carteira de Trabalho, o que contraria a legislação brasileira.
No documento, datado de 3 de setembro de 1997, o então vice de futebol do Bahia, Ruy Accioly, comunica ao departamento de pessoal sobre a contratação de Jair Pereira. Na linha sobre o salário, Accioly informa que os rendimentos seriam de R$ 30 mil mensais, R$ 15 mil na carteira e o restante "por fora".
O contrato foi assinado um ano antes de o departamento de futebol do Bahia virar clube-empresa, em sociedade com o Banco Oportunity. Hoje, Accioly é superintendente do Esporte Clube Bahia e, segundo ele, não participa mais das negociações. O Oportunity tem 67% das ações do Bahia S/A.
Procurado pela reportagem, Accioly disse não se lembrar do fato.
"Naquela época, o Bahia ainda era Esporte Clube. As coisas mudaram. Nem lembro desse fax, desse contrato. Faz tanto tempo... São quase quatro anos já. Hoje em dia o Bahia é uma sociedade. Qualquer negociação tem de passar pelo crivo do Banco Oportunity", afirmou.
O técnico Jair Pereira, que foi demitido anteontem do Sport Recife, tampouco se lembra do contrato. "Não posso dizer que não assinei esse contrato porque simplesmente não me recordo dele. Mas posso garantir que não recebi nada no período em que fiquei lá. Recebi depois que a firma (o Banco Oportunity) entrou", afirmou o treinador.
Na ocasião, Pereira foi contratado pelo Bahia em substituição a Geninho, hoje no Santos. Chegou na sexta rodada do Brasileiro de 97, mas não impediu a derrocada da equipe.
O Bahia foi rebaixado para a Segunda Divisão ao lado de Criciúma, Fluminense e União São João.