São Paulo - O técnico da seleção brasileira diz que a torcida não deve mais esperar ver lançamentos, dribles e criatividade como há 20 anos. Reclama dos alas, que inibem o surgimento dos pontas e sente falta de um volante à moda antiga, o ‘coadjuvante’ que não faça questão de aparecer para a torcida.
Ele já deu a dica que tem 70% da seleção brasileira para a Copa na cabeça. Ainda procura as melhores soluções para as laterais e o meio-campo. E quer ressuscitar o ponta, posição que começou a desaparecer da seleção brasileira na gestão Telê Santana.
Leão fez uma advertência: que a torcida não espere – nunca mais – ver a criatividade que marcou o futebol brasileiro até o início da década de 80. Os tempos são outros.
O que a torcida pode esperar da seleção brasileira?
Leão: A torcida pode pensar grande, como eu penso. A seleção pode, deve, tem condições, tem objetivo de chegar sempre ao topo, em todas as circunstâncias. Não podemos ser pessimistas jamais. O que a torcida não deve esperar é o que tinha há 20, 30 anos: lançamentos, dribles, criatividade. O espaço mudou. O jogador não pode mais ter esse tipo de raciocínio lento. Isso não quer dizer que a minha vontade, como técnico da seleção, é abolir a individualidade ou a criatividade. Quero jogadores criando, lançando, driblando, quando for possível.
Por que esse espaço mudou?
Pela necessidade do resultado. Houve uma evolução física e tática muito grande – eu não sei se é evolução ou involução – e um condicionamento físico exigido para que isso pudesse ocorrer. Então você vê grandes talentos sendo marcados por jogadores medíocres, à base de aplicação tática e vigor físico. O cérebro de um time pode ser anulado por um jogador medíocre. É errado? Não. É feio? É!
Como você livra o cérebro do seu time dessa marcação?
É difícil. Você escapa umas duas, três vezes por jogo. Então você tem que fazer uma maneira de prejudicar a outra equipe. Pega seu cérebro e enfia entre os dois zagueiros. Você obriga o adversário a ficar mais recuado, quase dentro da própria área. Você trabalha com mais espaço. Se você tiver um talento de um bom batedor de falta, provoca esse tipo de lance perto da área. Não é a mesma coisa, o jogo fica faltoso, feio, mas é o antídoto mais sem-vergonha que a gente pode usar.
O Rivaldo é o cérebro do seu time?
Não. Ele é um dos grandes jogadores do mundo. Tem criatividade, passe e faz gol. Mas está muito tempo fora daqui e acostumou a jogar de uma determinada maneira. No time dele, ele é monstruoso. Enquanto não tivermos o tempo da seleção para o Mundial, nós não vamos ter o Rivaldo do Barcelona.
Mas o cérebro...
Não quero que a Seleção tenha um cérebro. Eu não posso ficar dependente de uma pessoa. Não convoquei o Cafu justamente por isso. E se ele tem uma dor de barriga? Há quanto tempo que você escuta "só temos o Cafu"? Quase sete anos. Eu não cheguei à seleção para manter tendências. Tenho que aumentar o lastro de jogadores em cada posição.
É o caso de Belletti e Anderson?
Exato. O Anderson conheço bem, é rodado. O Belletti era irritadiço, mas mudou. Uma vez orientei a expulsão dele (Sport 4 x 3 São Paulo, na Copa JH). Fiz o Nildo e o Leonardo provocarem-no com dribles e em 20 minutos ele estava fora do campo. Ele percebeu aquilo. A partir dali ele começou a mudar. E mostrou a atitude esse ano. Em 14 jogos, tomou um cartão amarelo. Para beque, não precisa falar mais nada.
Entre Anderson e Belletti, quem é o titular?
Problema deles. Quem estiver melhor nos treinos, quem eu necessitar para um tipo de jogo. Eu não quero mais que o lateral-direito, nem o esquerdo, me roubem a possibilidade de ter um ponta.
Ponta?
Sim, ponta! Acho que os alas, os "carrilheiros", estão matando ofensivamente os pontas. Cadê o nosso jogo de ponta? Cadê o nosso jogo driblador? O Euller é um ponta. Faz gol e dá gol. O Nildo, no Sport... Sempre tem um jogador assim. No Juventude, tinha o Mauricinho. Sem vergonha, mas bom jogador pra caramba.
Isso significa que os alas não vão mais apoiar?
Isso significa que eles não podem afogar os homens de frente. Eles têm que colaborar. Os alas esqueceram que são defensores. É muito comum você olhar para uma jogada, o adversário está atacando e o ala está lá na ponta direita. Está havendo uma pequena confusão. Deram liberdade, e os alas não souberam dosar. Democracia é bom, sabendo usar. Ala não é mais elemento surpresa.
Seu ataque então tende a ter um ponta e um jogador de área?
Seria um bom pensamento. Depende muito da conjuntura. Se eu tenho alguma coisa melhor (na ponta), eu posso ter um homem cabeceador. Se eu tenho uma condição pior, tem que ser um mais habilidoso no meio.
Como funcionam os talentos complementares no meio-campo?
Para que isso seja possível, você tem que ter pelo menos dois homens de meio-campo à moda antiga. Dois jogadores que não fizessem questão de aparecer individualmente, mas dessem conta do recado. Os brilhantes coadjuvantes. Alguém como o Dudu, ou o Batista. Mas é difícil encontrar alguém assim... Você conhece algum?
ÚLTIMAS NOTÍCIAS