Rio - Na era da força, os pontas são meras figuras nostálgicas de um futebol romântico, vistoso, das décadas de 50, 60 e 70, encobertos pelo império do vigor físico e disciplina tática, que fez surgir os alas. Apesar de concordar que o Flamengo joga o "futebol eficiência" para conquistar o tricampeonato estadual, o técnico Zagallo afirma que se tivesse opções utilizaria o esquema 4-3-3, com dois pontas abertos, condena o estilo brasileiro de copiar os estrangeiros e garante que o técnico da Seleção Brasileira, Émerson Leão, não conseguirá ressuscitar os pontas.
LANCE!: Falam que o Flamengo joga um futebol feio, mas que vem dando certo. É essa a cara do time?
ZAGALLO: É preciso se adaptar à característica de cada jogador. Por exemplo, peço aos homens de meio-de-campo para chegar na grande área, mas eles não são acostumados. O Beto é quem mais se aproxima do ideal. Tenho que respeitar a individualidade de cada um e trabalhar com o material humano disponível.
Os pontas deixavam o jogo mais aberto. Você ousaria utilizá-los em pleno ano 2001 no Flamengo?
Z: Eu voltaria a minha época, com dois pontas abertos e dois pontas de lança. Mas acabaram os pontas no futebol brasileiro. Se tivesse Garrincha, Jorginho, Juninho, sim. Ou então deixassem armar uma equipe.
O Edílson não pode fazer a função pelo lado direito?
Z: O Edílson tem habilidade, velocidade, mas fecha mais para o meio.
Então por que não manteve o Denílson no Flamengo?
Z: O Denílson tem a característica de ponta. Mas quando cheguei no Flamengo ele queria mandar. Fazer o que bem entendia. Tínhamos que jogar com duas bolas. Uma para ele, outra para o time. Não vi nada nele e falei que podia ser liberado.
Ainda existe algum ponta nato no futebol brasileiro?
Z: O Euller é o que mais chega perto, mas faz duas funções. Ele abre para as laterais e ainda chega na área para concluir.
Na sua visão, como se encerrou o ciclo dos pontas no Brasil?
Z: O brasileiro tem a mania de achar que a cópia é melhor que o original. Como nós nascemos com a habilidade e o esquema 4-4-2, os europeus já têm no sangue o 3-5-2. Eu, por exemplo, toda a vez que driblava no treino, o Fleitas Solich (técnico rubro-negro na década de 50) marcava falta. Em 1970, só para citar, a Inglaterra jogava com pontas.
O Leão garante que vai ressuscitar os pontas. Você acredita?
Z: Não é o técnico da Seleção Brasileira que vai conseguir isso. Isso tem que vir do dente-de-leite. Quando um garoto chega na escolinha e diz que é ponta, o técnico o coloca como ponta de lança. Se você corta a raiz, a planta não nasce.
Os alas, então, ganharam espaço. Por que os brasileiros não se adaptam ao esquema?
Z: É preciso entender a necessidade de ser eficiente nos cem metros de campo. Tudo na vida é equilíbrio. No Flamengo, por exemplo, temos jogadores bons nos 50 metros. Há a necessidade de marcar e atacar.