Rio - A contadora do Flamengo Maria Ângela Alves Luz prestou depoimento nesta quinta-feira na CPI do Senado, que investiga supostas irregularidades no futebol brasileiro. Parte do depoimento foi em sessão secreta a pedido da depoente, que se negou a responder publicamente se estava sofrendo algum tipo de ameaça ou constrangimento em seu trabalho por estar prestando esclarecimento à Comissão. Durante a sessão, o relator da CPI, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), apresentou números sobre o clube que surpreenderam a ele e aos demais parlamentares.
O que mais causou espanto aos senadores foi o fato do patrimônio líquido do Flamengo ter se apresentado negativo em R$ 106 milhões no fim de 2000, mesmo com o clube tendo firmado um contrato milionário de venda de imagem com uma empresa do exterior.
Althoff aproveitou a ocasião para ler parecer do conselho fiscal do clube que rejeitou o balanço e a prestação de contas do exercício de 2000. Segundo Althoff, os conselheiros tomaram esta decisão alegando divergência de valores entre o balanço patrimonial e o balancete de verificação, ausência de documentos fundamentais à fiscalização, má utilização de recursos, irregularidades detectadas em diversos documentos, e não adequação das contas ao orçamento aprovado pelo conselho de administração do clube.
Na seqüência foi a vez do ex-vice-presidente de finanças do Flamengo Bruno Caravello falar aos senadores. O depoimento dele foi pouco esclarecedor, pois o depoente alegou não ter autoridade para responder diversas perguntas dos parlamentares. Ele não falou sobre despesas contratadas e negociação de jogadores pelo clube, pois alegou que elas eram decididas por outras áreas do Flamengo. Caravello explicou isso ao ser perguntado sobre a contratação do meia Petkovic.
Ele também se negou a opinar sobre diversos negócios feitos pelo clube, que, segundo o conselho fiscal, poderiam ter sido evitados ou adiados por provocarem o estouro do orçamento em 2000. Os negócios foram os seguintes: confecção de 44 mil camisas por R$ 176 mil; gastos de R$ 11 mil na solenidade de posse do diretor jurídico Sílvio Guerra; despesas de R$ 99 mil no centro de treinamento; gastos de R$ 42 mil na impressão de folders e painéis para divulgação do centro de treinamento.
Caravello não comentou a atitude do presidente do Flamengo, Edmundo dos Santos Silva, de impedir na Justiça da quebra do sigilo bancário e fiscal do clube. O depoente negou que o Flamengo desse preferência a algum empresário nos negócios de compra, venda e agenciamento de jogadores. Também negou ter pagado comissão ao empresário Léo Rabello em sua gestão, mas admitiu que ele era um dos agentes que avaliavam o valor de mercado do passe dos atletas do clube.
Sobre o contrato com a ISL, Caravello disse que todos os negócios relativos a direito de marca e propriedade do clube estavam regulados por esse contrato. Segundo Caravello, por delegação do conselho deliberativo foi criado um conselhinho para tratar exclusivamente dessas questões. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da Comissão, lembrou que a dívida do Flamengo, sem contar os débitos incluídos no contrato com a ISL, situa-se em R$ 144 milhões.
Caravello evitou comentar a decisão do presidente do Flamengo, Edmundo dos Santos Silva, que tentou evitar na Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do clube. Ele negou que o Flamengo desse preferência a empresários para compra e venda de jogadores.