Rio - Ser um zagueiro tradicional, capaz de cumprir todos os requisitos exigidos de um defensor, não satisfaz Juan, do Flamengo. Sua capacidade de ir ao ataque, marcar gols e dar passes para companheiros fizeram com que ele alcançasse um posto nada comum: virar ídolo da torcida rubro-negra, mesmo sem ser atacante. A grande fase faz Juan planejar vôos altos. Nesta sexta-feira, quando for anunciada a lista de convocados para a Seleção, ele saberá se, finalmente, chegou o dia de realizar mais um sonho.
O nome de Juan é um dos mais cotados. O jogador tenta, no entanto, jogar para longe o peso das cobranças. Afinal, a zaga da Seleção vem sendo muito criticada. "É claro que estou ansioso. Todo jogador pensa em chegar à Seleção. Mas procuro trabalhar a minha cabeça, porque a expectativa pode me prejudicar. E não quero que pensem que, se for convocado, vou resolver todos os problemas da Seleção".
Ir ao ataque não é só uma questão de aproveitar características. O sabor de fazer gols seduz o jovem zagueiro. "O futebol de hoje exige que o jogador não se limite a uma função. Eu gosto de ir ao ataque. É claro que fazer um gol é muito especial. Contra o ABC, marquei de cabeça, que é uma coisa até comum entre os zagueiros. Mas gosto mesmo é de fazer com o pé", diz Juan, que já marcou 16 vezes em 177 jogos pelo Flamengo. "Eu nem anoto, mas tenho de cabeça a conta dos gols que já fiz".
Juan já realizou o sonho de ser titular do Flamengo e vê na Seleção um degrau a mais na carreira. No entanto, para ele, a ascensão não pára por aí. Cobiçado por clubes espanhóis, o zagueiro deixa escapar que pensa em jogar no exterior. "Isso não depende da questão financeira. Ir para a Europa representa a chance de se projetar, de viver uma experiência profissional num lugar onde o futebol é mais organizado. É outra realidade. Não acho que seja cedo ou tarde para sair. Se for uma coisa boa para o Flamengo e para mim, seria o ideal".
Juan prefere não comentar o teor da reunião que teve com seu procurador, Gilmar Rinaldi, em Natal. "Falamos sobre futebol. Está tudo na mão do meu procurador. No momento, sou Flamengo de coração".
Ter personalidade para, cada vez mais, tomar a liberdade de ir ao ataque é, para Juan, uma questão de amadurecimento. "Hoje eu acho que tenho mais os pés no chão, enxergo melhor o jogo. Mas não me iludo. Eu até acho que vivo o meu melhor momento, mas espero que, no futuro, eu melhore. Quero crescer sempre".
Juan chegou ao Flamengo aos 10 anos e está há 12 na Gávea. Tempo suficiente para criar uma profunda identificação com o clube, mas também para acabar com o deslumbramento dos tempos de garoto. "Quando você sobe para os profissionais, tem a ilusão de que tudo será sempre maravilhoso. Afinal, você acabou de realizar algo maior do que um simples sonho. Comigo foi assim. Meu sonho era jogar no Flamengo. Aos poucos, você vai conhecendo a realidade do futebol e a empolgação diminui".