Rio - Romário chega aos 35 anos com uma agenda de jovem. Figura carimbada nas ''pistas'' da cidade, daqueles que perdem o amigo mas não perdem uma noitada, o atacante vai fazendo gols na mesma medida que freqüenta as boates, o que confirma ser um de seus poucos vícios.
''As pessoas não acreditam, mas não custa nada repetir. Eu não bebo, não fumo e não cheiro. Gosto de dançar, de me divertir. Mas quando acho que está na hora de ir embora, vou direto para a cama'', conta.
O artilheiro dorme muito - lembra que esse é um dos ingredientes para sua vitalidade. Nunca menos de 10 horas, não importa a hora que vá deitar. Foi o que aconteceu na madrugada de quinta-feira, depois do jogo contra o Peru. Do Morumbi, Romário seguiu para o Hotel Maksoud Plaza, onde jantou rapidamente, enfiou-se numa roupa Armani e seguiu direto para a inauguração da boate do companheiro Vampeta. Voltou para o hotel às 5h, dormiu até as 14h e viajou para o Rio. Dormiu mais duas horas na concentração do Vasco, em Copacabana e jogou à noite.
''Acho até que vacilei, pois não gosto de sair na véspera de jogo. Mas como o Vampeta é meu amigo e já estava combinado, fui. Mas parece que não atrapalhou, não é?''.
Não atrapalhou mesmo. Romário entrou em campo pouco depois de acordar e marcou dois gols no Bangu - já tem oito no Campeonato Estadual, cinco a menos do que Edílson. ''Estou correndo atrás, mas vou chegar. Vou tirar essa diferença'', assegura.
Os críticos de Romário - e eles nunca se rendem - teimam em aposentá-lo. Argumentam que cada vez mais o atacante fica parado em campo. ''Há cinco anos que eu estou jogando parado. E há cinco anos que sou artilheiro do Estadual. Tem muito atacante que corre pra caramba, se movimenta para os lados, mas gol que é bom, nada. Quem tem de correr é o Michael Johnson, o Claudinei Quirino...''
Romário diz que nasceu para fazer gol. O que ele já fazia aos montes nas peladas do Morro do Jacarezinho, no time do Estrela - e no meio de marmanjos. ''Fazer gol não se aprende. Ou o cara nasce com esse dom ou não tem jeito. O que se pode fazer é aprimorar qualidades, como está acontecendo comigo. Hoje, me coloco na área bem melhor do que antes, tenho mais visão de jogo '', explica.
Mas, afinal, qual o segredo para tantos gols? Em toda a carreira, foram 709. Pela Seleção Brasileira, 70. Em duas Eliminatórias, já superou Tostão (10) e está a um gol de Zico (12). Na atual Eliminatória, é o artilheiro com oito. Sem contar aqueles que, segundo o atacante, lhe foram roubados - pelo infantil e pelo juvenil do Vasco e nos amistosos do PSV, na Holanda. Romário conta que pelo juvenil marcou 12 no time do Cabuçu (o Vasco venceu por 17 a 1). ''Foi um jogo em Nova Iguaçu, nem sei se existe mais esse time. E no PSV, nos amistosos preparatórios de início de temporada, cansei de marcar sete, oito gols numa partida. Só que esses gols não estão no meu currículo'', lamenta.
Boa colocação na área, exercícios especiais de musculação e ponto final na paixão pelo futevôlei (ele finalmente reconheceu que jogar na areia estimula lesões na panturrilha). Junte-se a isso a freqüência cada vez mais rara nos treinos - o que cai sob medida para quem assumidamente nunca gostou de treinar - e está pronta a receita de um artilheiro.
''Daqui para a frente vou treinar cada vez menos. Esse resto de semana, então, nem vou a São Januário. Só entro num campo para jogar contra o Botafogo", diz.
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