Acra - Milhares de parentes desesperados dirigiram-se na quinta-feira para um necrotério da capital de Gana, Acra, para reconhecer as vítimas de um tumulto em um jogo de futebol que deixou pelo menos 126 mortos, no que se constituiu a pior tragédia envolvendo o esporte na África.
Autoridades prometeram realizar uma investigação sobre o desastre, que teria acontecido quando a polícia usou gás lacrimogêneo para apartar uma briga entre as torcidas no final da partida de quarta-feira entre as duas principais equipes do país, o Hearts of Oak e o Asante Kotoko.
Esse foi o terceiro incidente envolvendo torcedores de futebol em um mês, suscitando dúvidas sobre as esperanças da África de sediar a Copa do Mundo de 2010.
``Ouvi ontem que meu filho estava no necrotério, mas não consegui acreditar. Eu acabei de vê-lo e ainda não consigo acreditar'', disse Hajia Sisi Serena logo após indentificar o corpo de seu filho, um alfaiate de 28 anos.
A agência de notícias estatal de Gana informou que 126 mortos tinham sido registrados por funcionários de seis hospitais em Acra. Segundo a rádio local, Joy FM, pelo menos 130 pessoas teriam morrido, incluindo vários muçulmanos enterrados imediatamente de acordo com os rituais islâmicos.
O presidente John Kufuor convocou seu gabinete para uma reunião de emergência e deve declarar um período de luto nacional.
Kufuor, que já foi dirigente do Kotoko, estava claramente abalado durante a visita que fez aos feridos, dizendo simplesmente ``isso é muito triste''.
Corpos jaziam no chão do necrotério para que parentes e amigos pudessem identificá-los. Muitos dos mortos foram esmagados durante o tumulto, e outros foram sufocados.
Testemunhas disseram que, com o Hearts of Oak vencendo por 2 a 1 com dois gols marcados no fim do jogo, torcedores do Asante Kotoko começaram a atirar pedaços das cadeiras de plástico no campo.
A polícia reagiu com gás lacrimogêneo, dando início a uma correira para os portões de saída do estádio, que tem capacidade para 50 mil pessoas.
``Instalei uma sindicância interna para investigar essa tragédia. Não vamos proteger ninguém'', disse à Joy FM o Inspetor Geral de polícia Ernest Owusu-Poku.