Campinas - No início do ano, quando recusou propostas de São Paulo e Santos, Nelsinho Baptista foi tachado como louco. Na época, disse que ficaria na Ponte Preta porque o clube era um dos favoritos ao título. Muitos riram de suas palavras. Cinco meses depois, mostrou que estava certo na aposta. E as mesmas pessoas que ironizaram o treinador já aceitam a possibilidade do inédito título da Macaca.
Domingo, a Ponte Preta enfrenta o Botafogo, em Campinas, e a vitória colocará o time na final do estadual. Em entrevista exclusiva, Nelsinho explica o porquê da confiança em seu time e revela um segredo: luta para ser lembrado como treinador da Seleção na Copa do Mundo de 2006.
Antes do Paulistão, você recebeu convites de São Paulo e Santos. Mas preferiu continuar na Ponte Preta porque dizia que o time brigaria pelo título. O que lhe dava toda essa certeza?
Nelsinho Baptista: Quando cheguei na Ponte, em agosto, a proposta foi de que a João Havelange serviria como observação. O objetivo maior era começar a formar um time que tivesse condições de ser campeão paulista. Assim, no início do ano já estávamos com o time quase pronto. Faltavam apenas duas ou três peças. Além disso, sempre acreditei na proposta da Ponte e na força do elenco. Sabia que poderíamos fazer um trabalho vitorioso. Por fim, a análise da tabela, com nove jogos dentro de casa, mostrava que o time teria grandes chances de chegar.
L!: Os jogadores da Ponte transmitem confiança no título. Ao mesmo tempo, a grande força do time está nas partidas em Campinas. Caso chegue à final, os dois jogos serão no Morumbi. Não é um fator prejudicial?
NB: De maneira nenhuma. O elenco da Ponte amadureceu muito. Hoje, todos pensam grande, não apenas em ficar na frente do maior rival.
L!: Você nasceu em Campinas e, como jogador, foi criado na Ponte Preta. Por esse motivo, há um significado especial na conquista desse título?
NB: Não. Atingi um nível na carreira em que sou cobrado aonde chego. Sempre esperam o título por tudo o que conquistei no futebol. Será uma grande conquista para Campinas, mas para mim será apenas mais um título. Aceitei a proposta da Ponte pelo desafio que representava. Nunca pensei: "Pô, é o primeiro título da Ponte". Mas é claro que quando paro para pensar, o pensamento vai longe.
L!: A Ponte vive seu melhor momento nos últimos anos. Você nota uma mudança na atitude dos adversários?
NB: Sem dúvida. O trabalho da atual administração readquiriu o respeito que a Ponte tinha na década de 70.
L!: Ao mesmo tempo em que readquiriu o respeito, a Ponte voltou a ter jogadores convocados para a Seleção. Como encarar a chance de perder jogadores na reta final do Paulistão e da Copa do Brasil?
NB: O calendário brasileiro é muito desorganizado para a Seleção. É claro que seria um prejuízo grande perder algum jogador nesse momento. Mas a culpa não é do Leão. Ele tem que chamar sempre os melhores.
L!: Mesmo diante dessa bagunça, a Seleção faz parte de seus planos...
NB: Fiquei quatro anos fora do país e meu trabalho foi prejudicado aqui. Perdi espaço. Poderia ter conquistado muito mais títulos. Por isso, quero reconquistar meu espaço para ser lembrado como candidato à Seleção. Não escondo que trabalho para ser técnico da Seleção na Copa de 2006.
L!: Diante da campanha da Ponte, a cobrança dos torcedores aumentou?
NB: Sinto pouco da cobrança porque saio muito pouco de casa. A cobrança maior é dos amigos. Mas é mais um incentivo. Coisas do tipo: "Pô, não podemos deixar essa chance escapar". Com os poucos torcedores que tenho contato, percebo um carinho especial. Tenho o apoio deles desde o início.
L!: Esse bom momento da Ponte contrasta com o rebaixamento do Guarani. O que a queda do rival representa para a Ponte?
NB: A rivalidade faz você buscar sempre novas alternativas. A cidade fica em evidência e todos ganham. Por isso, a queda do Guarani é prejudicial, apesar de os torcedores não entenderem assim.
L!: Se você tivesse que deixar uma mensagem aos torcedores...
NB: Vamos precisar do apoio deles amanhã. É um jogo difícil e a energia que eles passam será fundamental. Se o time rende bem em casa, deve muito disso à força da torcida.