Rio - Terça-feira, seis de junho. Dia de visita no Penitenciária Plácido de Sá Carvalho, conhecida como Bangu 1. Fila de mulheres na porta e ansiedade dos presos no interior. Mas um deles ficará na solidão. É o jogador Hernande, 27 anos, campeão Estadual pelo Vasco em 1994, que nesta quinta-feira completa 163 dias de detenção por ter atropelado quatro pessoas em 1994. Entre os que esperam para visitar parentes, ninguém de sua família.
A mulher, Vanessa, 24 anos, e os dois filhos moram em Silva Jardim, interior do estado do Rio de Janeiro, e os pais residem em Alegrete, no Rio Grande do Sul. Distância que os impossibilita de visitar Hernande, preso no dia 22 de dezembro, véspera do aniversário de quatro anos da filha Pâmela.
A menina e o irmão, Hernande Júnior, de 6 anos, não vêem e não sabem onde está o pai desde então. Pensam que ele está jogando futebol. Decisão tomada no intuito de poupá-los de um sofrimento maior. "Minha mulher me visita uma vez por mês. Só quero minha família. Minha filha machucou o supercílio e eu não estava perto. Ela pede que eu vá dar mamadeira a ela de madrugada. O garoto era agarrado comigo. Meu coração está batendo forte", desabafa Hernande, que tem mais uma filha, Tainá, cinco anos, de um outro relacionamento.
Em Bangu 1, o jogador divide uma cela com mais 37 presos. Uma verdadeira salada mista de criminosos. "Tem de tudo. Estuprador, assassino, assaltante... Fico na cela das 18h às 9h. O resto do dia ficamos circulando. Trabalho de secretário do diretor do presídio. Para passar o tempo jogo futebol, faço musculação e vejo fotos dos meus filhos", conta Hernande, que é o artilheiro do último campeonato da penitenciária.
Atua pelo time do Corinthians. Marcou 35 gols em 12 jogos. No local, estão cumprindo pena 1.110 detentos, sendo 220 no mesmo pavilhão no qual o jogador está preso. E apesar de todo o sofrimento, teve de aturar as brincadeiras dos flamenguistas do local.