Porto Alegre - Os cabelos, castigados pelo tempo, já não são tão fartos como anos atrás. De férias em Porto Alegre, Taffarel deixa a badalação de lado e prefere apreciar uma boa pescaria, um de seus hobbies prediletos.
Atividade que ele mesmo brinca chamando-a de "programa de velho". Mas nem por isso, o goleiro tetracampeão mundial vive uma crise. Aos 35 anos, ele confessa com todas as letras que seu tempo já passou. Mas se engana quem pensa que ele está sofrendo. Nesta entrevista, ele afirma não ter a pretensão de ficar marcado na história do futebol brasileiro, como, na sua opinião, desejam os tricampeões de 70. E faz uma análise da Seleção, sem poupar o ex-técnico Leão.
Você comunicou à diretoria do Galatasaray que está deixando o clube. O que motivou você a tomar essa decisão?
Taffarel: Foi um ano extremamente difícil tanto dentro como fora do campo. Infelizmente, não conseguimos repetir os feitos dos anos anteriores. A saída do Fatih Terim (atual técnico do Milan) prejudicou demais a equipe. Ele era durão, exigia muito dos jogadores. Com a sua saída, o ambiente amoleceu, acabou a preocupação de dar o melhor. Para piorar, os salários começaram a atrasar. O time afundou. Por isso, chegou a hora de sair.
Você pretende retornar ao futebol brasileiro? Surgiu alguma proposta?
T: Minha experiência no Brasil já passou. Minha intenção é continuar na Europa. Quando você tem qualidade e ainda é pretendido, não pode desperdiçar a chance. Muitos atletas fazem exigências, escolhem time na hora de sair, só querem atuar em grandes clubes. Penso de forma diferente. A minha política é aproveitar as oportunidades, mesmo que numa equipe pequena. Foi assim que me dei bem no Parma. Era uma equipe sem expressão, mas que hoje é uma das forças da Itália. Ainda não há nada de concreto, mas gostaria de jogar na Espanha, na França ou até na Itália.
Como você avalia a sua passagem na Turquia? Valeu a pena?
T: Com certeza. É mais um exemplo do que falei: tem de se aproveitar as chances. Fiz uma excelente escolha. Vivi a melhor fase da história do futebol turco. Com o Galatasaray, venci o campeonato turco, a Copa da Turquia e a Copa da Uefa. O único problema foi o terremoto, que devastou a Turquia há quase dois anos. Nunca passei tanto medo na minha vida. É uma sensação indescritível. Minha casa foi afetada, ficou cheia de rachaduras. O país ficou muito abalado.
Você está com 35 anos. Já pensa no momento de parar?
T: Estou que nem galinha, penso milho por milho (risos). É difícil dizer quando vou parar. Não determinei um prazo. Enquanto estiver indo treinar contente, vou levando. Alegria e motivação são dois elementos fundamentais e ainda os tenho.
Por tudo o que você conquistou pela Seleção, você acha que tem o devido reconhecimento da torcida?
T: Sempre tive o apoio da torcida. Mesmo nos momentos de altos e baixos na Seleção, ela me apoiou. Sinceramente, não quero virar um daqueles jogadores tricampeões de 1970. Não acho que devo ficar na história para sempre. Quero abrir espaço para outros jogadores, para novos talentos. Vou torcer muito pelo penta, pois se o garoto for penta, vai estar implícito que antes dele houve uma geração que foi tetra, tri e assim por diante.
Como você analisa a atual geração de goleiros do Brasil?
T: O Brasil tem ótimos goleiros. E vem uma geração excelente por aí, com Júlio César e Hélton. Vi alguns jogos deles na Turquia e ambos mostraram qualidades. Nossa escola é uma das melhores do mundo até porque a crítica em cima do goleiro no Brasil é muito forte. Quando ele vai a campo, tem de ser perfeito. Com relação a Seleção, acho que o Luiz Felipe deve escolher os dois em que confia e seguir com eles para que se firmem. A pior coisa que existe é o revezamento.
Por falar em Seleção, como você viu a entrada de Luiz Felipe Scolari? O Brasil corre risco de ficar fora da Copa do Mundo do ano que vem?
T: Acho que o Brasil já fez 1 a 0 no Uruguai com a entrada do Felipão. A mudança foi fundamental. Leão não tinha qualidade para o cargo. Um técnico para comandar a Seleção, precisa ter caráter. E ele não tem. O Leão foi jogador, vive no futebol até hoje e ainda não aprendeu a se relacionar com os jogadores. Ele não fez isso nos clubes e tampouco na Seleção. E acabou pagando o preço. Com Luiz Felipe, tenho certeza de que iremos à Copa do Mundo.
O Luiz Felipe optou por convocar jogadores experientes para esta primeira partida. Você voltaria à Seleção caso ele o chamasse futuramente?
T: Fiquei muito feliz com a convocação do Mauro, a permanência do Romário, do Cafu. Outro dia, falei no telefone com o Cafu e ele parece que não envelhece, sempre com a voz de guri (risos). É preciso contar com jogadores experientes para suportar momentos de pressão como este e o que vivemos nas Eliminatórias de 1993. Mas sinceramente não tenho ambição de voltar a defender à Seleção.