Rio - O piloto brasileiro Gerard Moss planou sobre o Rio de Janeiro na sexta-feira após completar a primeira volta ao mundo num motoplanador, uma odisséia que o fez amargar um tempo em uma prisão vietnamita e que quase terminou no fundo do oceano.
A elegante aeronave ``Ximango'', propulsionada por um motor de 100 HP, desceu no aeroporto de Jacarepaguá antes de ser recepcionada por dezenas de amigos e fãs que comemoraram o feito do piloto de 46 anos.
``Foi uma longa e dura batalha. Mais de uma vez eu pensei que o planador não iria conseguir e eu vesti o pára-quedas, mas nós conseguimos'', disse o piloto depois de ser abraçado por sua esposa, Margi.
A viagem de 55.300 quilômetros levou 100 dias para ser completada e incluiu paradas em 30 países. Moss contou suas aventuras no site www.asasdovento.com.br.
Próximo do Japão, dois caças F-15 circularam Moss quando ele se desviou de sua rota. No Vietnã ele foi preso após pousar em um aeroporto sem ser autorizado. Na metade do caminho, o piloto automático da aeronave pifou.
Moss, um engenheiro mecânico suíço naturalizado brasileiro, disse que o pior momento de sua aventura aconteceu quando ele estava viajando do Vietnã para a Tailândia e entrou em uma tempestade.
``Eu estava no meio do mar, a centenas de quilômetros da terra, havia nuvens, chuva e raios por todos os lados e eu não sabia se eu iria viver ou morrer'', disse o aventureiro. ``Eu quase pulei no mar.''
Moss voou ainda sobre a Sibéria, ``onde você pode viajar mil quilômetros sem avistar ninguém''.
Ele e seu co-piloto russo receberam ajuda de habitantes locais para conseguir combustível, recolhido de aeronaves abandonadas no meio da imensidão vazia da Sibéria.
Depois de mais de três meses a bordo do apertado cockpit e com apenas 10 quilos de bagagem, Moss disse: ``Eu só quero dormir na minha própria cama e comer em minha própria casa.''
A aventura ainda não acabou. Durante sua viagem, Moss usou um sensor especial de ozônio para monitorar poluentes no ar. Os dados foram enviados para os laboratórios da universidade britânica de Cambridge e para análises pela Universidade de São Paulo (USP) em Bauru. Os estudos levarão um ano para serem completados.
O piloto comemora o fato de não ter adiado seu vôo.
``Com todas as tensões do momento, agora seria impossível fazer uma viagem deste tipo'', disse Moss referindo-se aos ataques de 11 de setembro que fecharam o espaço aéreo norte-americano.
As companhias Embratel e Victorinox patrocinaram a viagem do motoplanador brasileiro. ``Ximango'' é o nome de uma ave de rapina (Milvago chimango), da família dos falcões, que plana pelos céus do sul do Brasil.