Rio - Maior ídolo da história do Flamengo, presidente do CFZ e diretor-técnico do Kashima Antlers, do Japão, Zico continua sua luta pela moralização do futebol brasileiro.
Ele afirma estar disposto a integrar uma comissão de notáveis para sugerir mudanças, pede a renúncia de Ricardo Teixeira e descarta a possibilidade de vir a disputar o cargo de presidente do Flamengo ou da CBF.
Nesta entrevista, concedida neste domingo, na Gávea, durante a comemoração pelos 20 anos da conquista do Mundial Interclubes, ele abre fogo também contra a diretoria rubro-negra, que desprezou a data. “O que está acontecendo aqui hoje não tem nada a ver com a conquista. O Brasil é um país sem memória”, criticou Zico, referindo-se ao jogo realizado neste domingo, na Gávea.
L!: Qual a sua visão sobre o momento do futebol brasileiro?
Zico: Eu já digo há dois anos que o Ricardo Teixeira tem que renunciar. É uma questão de coerência. Ele mandou Vanderlei Luxemburgo embora por ter o nome envolvido em problemas extra-campo. Ele agora tinha que ser o primeiro a se retirar. Até porque a CBF está entregue às moscas.
L!: Volta e meia especula-se seu nome para assumir a presidência da CBF.
Zico (cortando a pergunta antes): Não existe a menor possibilidade de eu assumir um cargo administrativo agora. Tenho compromisso até 2002 com o Kashima e sou presidente do CFZ. Imaginem se sou presidente da CBF e o meu time ganha? O que vão dizer? É preciso ter ética.
L!: E no futuro?
Zico: Não sei nem sequer se estarei vivo amanhã...
L!: Você indicaria algum nome para assumir a presidência da CBF?
Zico: Para ser presidente da CBF não precisa ser conhecido, famoso. É necessário ter know-how no futebol. Pode ser jogador, médico, pessoas que entendam de futebol. O que não pode acontecer é uma pessoa fazer aliança com cinco federações e ser eleito presidente. É preciso mudar o colégio eleitoral.
L!: Você está disposto a integrar uma comissão de notáveis para salvar o futebol?
Zico: Posso dar a minha contribuição. Mas desde que essa comissão tenha voz ativa em todo o processo.
L!: Se a presidência da CBF não está nos planos, você pode vir a disputar a presidência do Flamengo?
Zico: Não é o meu objetivo, não quero esse tipo de cobrança. O que tinha de fazer pelo Flamengo, já fiz.
L!: Por que o Flamengo, com 35 milhões de torcedores, passa por uma crise financeira tão grave?
Zico: Não pode se fazer débito maior do que crédito. Se eu fizer isso, vou em cana. Por isso, sempre defendi a profissionalização do departamento de futebol. Pessoas que produzam para o clube. O importante em qualquer trabalho é o salário em dia. Existem direitos e deveres. Se o clube não paga, não tem autoridade. Aí, os jogadores fazem o que bem entendem.
L!: Faltam planejamento e competência para a administração?
Zico: O Flamengo ainda conseguiu um centro de treinamentos. Eu tenho. O clube ficou esbanjando dinheiro ao pagar R$ 50 mil de aluguel para treinar. Poderia guardar essa quantia por dois anos e investir num terreno em Vargem Grande, por exemplo.
L!: Entre acusações e má administrações, o futebol acaba sendo atingido?
Zico: O Brasil está sempre renovando talentos. Não tem é capacidade para mantê-los. A falta de planejamento acaba com os clubes. Como vou atrair um investidor se não sei as competições do ano que vem. No Japão, sei de tudo. Aqui é uma vergonha.
L!: Porém o que mais vemos são empresários assediando jogadores ainda nos juvenis.
Zico: O grave é o procurador ter influência no clube, fazer com que o técnico só escale seus jogadores. Mas muitos clubes têm dívidas com procuradores.
L!: E o CFZ? O que faltou para o time subir para a Primeira Divisão?
Zico: Joguei sob protesto a fase final. A Cabofriense disputou a Primeira Divisão este ano e caiu. E ainda jogou a Segunda Divisão no mesmo ano para ver se subia. Só pode ser armação. Não sei se tem alguém influente lá em Cabo Frio. Não sei mesmo.
L!: Você acha que as federações deveriam mudar seus comandos?
Zico: Tenho 30 anos no futebol e só vi dois presidentes aqui no Rio, o Otávio Pinto Guimarães e o Eduardo Vianna. Só eles têm capacidade?