Dani Blaschkauer
São Paulo – O brasileiro Carlos Alberto Bernardes Júnior, um paulista de 37 anos, conseguiu um feito igual ao de Guga, mas do lado de fora das quadras. Ele faz parte dos top 10 dos árbitros da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
Há 15 anos no circuito, Bernardes se transformou em um dos principais e mais respeitados juízes, responsável em apitar inclusive decisão de Masters Series (segundo torneio mais importante da temporada). Mas ele ainda tem um grande sonho: estar em uma final de um Grand Slam. “Mas isto é difícil, porque normalmente só um árbitro do próprio país é quem acaba escolhido”, afirma.
Como o país só tem um torneio da ATP, o Aberto do Brasil, Bernardes sabe que vai ser difícil realizar o sonho. Mas, se dependesse do currículo -carrega mais de 1000 partidas-, isto não seria problema.
“Por ano, fico mais de 30 semanas em torneios. Já estou entrando no meu quinto passaporte”, se diverte o juiz, que um dia, por pouco, não virou engenheiro. “Comecei a ser árbitro de linha quase que por brincadeira. Era professor de tênis até que um dia surgiu uma oportunidade para apitar jogos pelo Brasil. Fui para ver como era e estou aqui até hoje”, lembra.
Mas, mesmo assim, o juiz brasileiro não tem do que reclamar. Passa 80% do ano nos melhores hotéis, aviões e restaurantes do mundo. Da China a Paris. De Santiago a Tóquio. “Mas este não é o meu mundo real. Jamais, nas minhas condições, iria viajar sempre e ficar em hotéis cinco estrelas”, diz Bernardes, que por estar na elite mundial, fatura cerca de US$ 70 mil livres por ano.
Uma das poucas queixas do paulista é ficar longe da mulher Ana Lúcia e da filha, Ana Luiza, de 4 anos por tanto tempo. “Acabo compensando quando estou por aqui. Consigo levar até minha filha ao parque, quando todos os pais estão trabalhando no escritório. O engraçado é ver as outras mães olhando diferente, vendo como é que o pai é que está passeando com a filha”, afirma.
RACISMO, NÃO - Apesar de ser bem humorado fora das quadras, Bernardes mostra seriedade dentro.
E não se deixa intimidar com tenistas e nem com torcidas, como na vez do confronto entre Chile e Argentina pela Copa Davis, quando os torcedores chilenos chegaram até a jogar cadeira na quadra.
Ou mesmo, diante de Marcelo Ríos, ex-número 1 do mundo. Durante uma partida, o chileno não gostou de uma marcação do árbitro brasileiro e, ao ir para o seu lugar no game ímpar, falou. ‘Negro f.d.p’. Bernardes não teve dúvida: deu a derrota por conduta irregular do tenista, que nem esboçou uma reclamação. “Até hoje sou respeitado no Chile, até quando entro em um táxi”, comenta.
No início da carreira como profissional, ele também penou. “Logo quando profissionalizaram mais a arbitragem, me convidaram para apitar jogos do US Open. Mas, chegando lá, os árbitros americanos olhavam com desconfiança, sem gostar. Mas não foi por racismo, mas porque achavam que estava tirando emprego deles”, conta.
Enfim, driblando preconceitos, catimbas, torcida e horas e horas dentro de aviões e hotéis, e longe da família, faz de Bernardes ser um dos melhores do mundo, o ‘Guga’ dos árbitros.