São Paulo – Veja a seguir a reprodução na íntegra da entrevista concedida com Gustavo Kuerten após a derrota do tenista na madrugada desta segunda-feira para o francês Julien Boutter na primeira rodada do Aberto da Austrália. A reprodução foi feita pela assessoria de imprensa do tenista:
Pergunta – Qual foi o problema com você hoje?
Guga – Tive os mesmos problemas que venho tendo há um tempo com a minha perna. Eu jogo 40 minutos e depois não consigo manter o mesmo nível e isso não é suficiente para competir em melhor de cinco sets. Tenho muito a trabalhar e melhorar.
P – O que exatamente está errado com você?
Guga – Eu tenho um problema no quadril e tenho que fazer mais exames, a partir de hoje, para ver especificamente qual é o problema. Provavelmente é algo difícil e perigoso. Já faz oito meses que estou sentindo isso e provavelmente vou ter que selecionar mais os torneios para jogar, especialmente no saibro, onde eu tenho mais chance de jogar e tudo é mais natural para mim. Agora, por exemplo, eu me preparei bem para esse torneio e vi que ainda não estou pronto para competir em quadra rápida, ou outra superfície como o carpete, porque tenho que me mover e gerar força e só dá para jogar um set, um set e meio.
P – Você realmente sente dor quando está jogando?
Guga – Sim, muita dor e não tem sido muito agradável jogar desta maneira. É muito frustrante e doloroso, como no terceiro set. Eu não conseguia me mover e eu me sinto como se eu não conseguisse fazer o meu jogo. É uma sensação ruim.
P – Daqui, você vai a algum lugar para fazer exames e descobrir exatamente qual é o problema?
Guga – Isso vai ser o principal para mim nos próximos dias e depois, pensar na solução. Eu tenho que ser paciente, ver o que está na frente, qual é o próximo torneio, ver o que eu quero para os próximos meses e para a minha carreira também. Vou pegar, no mínimo, uma semana para pensar sobre isso, ver os exames e decidir o que é melhor para mim e para a minha saúde.
P – Durante a Mastes Cup você disse que talvez não viesse à Austrália por causa da contusão. O que fez você decidir vir, mesmo contundido?
Guga – Bem, muitas coisas e uma das mais importantes foi a maneira como eu me preparei. Eu tive tempo para descansar e me recuperar e eu não podia estar preparado de melhor maneira do que essa. Se eu sinto dor é porque alguma coisa está realmente incomodando, porque eu tive tempo para cuidar e fazer tudo o que tinha que ser feito. Outra razão de ter vindo para cá foi a de jogar um Grand Slam. É sempre legal e entusiasma o jogador. Mas, por outro lado, não achei graça ficar jogando com aquela dor, no final. Eu tinha uma esperança e uma expectativa de dar uma virada e eu só tive frustração e dor. Agora vou ter que pensar muito nas próximas horas.
P – Você acha que a contusão é uma desculpa legítima para a sua derrota, quando você está ganhando de dois sets a zero, sacando e correndo?
G – Eu não estou me preocupando com o jogo. Eu estou preocupado comigo e com o fato de estar com esse problema há algum tempo. É com isso que eu tenho que lidar agora. Para falar a verdade eu não esperava vencer esse jogo. Eu estaria surpreso se tivesse vencido. Eu também não queria me sentir como me senti no final do jogo e isso foi a maior derrota para mim hoje.
P – Nos disseram que depois do jogo você foi ver alguns médicos. O que eles te disseram?
Guga – Eu fiz exames e eles têm que analisar os resultados. Mas, acho que ainda vai levar alguns dias para ter tudo planejado. Assim como vocês, eu também quero saber o mais rápido possível o que eu tenho realmente e o que fazer.
P – O seu problema é principalmente físico, desde o US Open, ou mental, ou, é a perda de confiança?
Guga – Estou tendo um período difícil fisicamente e isso afeta o lado mental também. Isso tudo te deixa cansado e faz com que as coisas fiquem mais difíceis em quadra. Mas, acho que fisicamente tem sido muito mais difícil. Eu mesmo vi hoje como eu estava me movimentando e jogando no primeiro set e como eu terminei o jogo. É como se tivessem tirando alguma coisa de você, do seu jogo e nesse nível você tem que rever a sua condição física e se é abaixo do normal, fica difícil de vencer.
P – Você disse que não esperava vencer o jogo. Você disse mesmo isso?
Guga – Sim.
P – Então porque você jogou quando ainda estava se curando?
Guga – Não é por que eu ainda estou me curando que não esperava vencer o jogo e sim porque eu estava sem jogar há muito tempo, praticamente dois meses. Eu sabia que ele era um jogador duro, eu já tinha perdido um jogo pra ele e também não sabia como eu corpo iria responder. Eu venho treinando, fazendo muitas coisas e trabalhando com coisas diferentes. Mas, você sabe. Jogo é jogo e eu me dei essa chance de jogar para ver até onde eu poderia ir e para avaliar o resultado do tratamento e da preparação. Foi um teste para mim. Eu disse isso antes de vir para cá, no Brasil, que seria um teste para ver como o meu corpo reagiria, porque eu fiz uma boa preparação. Normalmente eu não teria todo esse tempo para ficar em boas condições para jogar um torneio desses e como eu já disse, se eu ainda não estou bem para jogar nesse nível é hora de pensar talvez em outras opções. Eu não sei se eu tenho que fazer uma cirurgia ou algo parecido.
P – Quando começou o seu problema?
Guga – Estou com ele desde Miami, Indian Wells. No começo você acha que é stress, cansaço, mas a essa altura não dá para ter o mesmo problema.
P – É a perna ou a virilha?
Guga – É a virilha, o quadril. Eles me disseram no quadril, mas é tudo mais ou menos junto.
P – Você tem tido experiências difíceis no Australian Open. Você está ficando chateado ou isso te dá mais determinação para voltar e ter uma boa experiência?
Guga – Ainda não. Eu estou aqui porque eu gosto de jogar o torneio, mas é verdade que é muito cedo para mim. É sempre o primeiro torneio que eu jogo e não é fácil para mim, especialmente eu sendo um cara que gosta de jogos, de estar envolvido no jogo, vir aqui e jogar um torneio na quadra dura, como hoje, contra um cara sacando um monte de aces em cima de mim. Às vezes é difícil pegar ritmo e me sentir confortável e com confiança suficiente para vencer os jogos. Até agora ainda não encontrei a maneira certa de jogar melhor aqui. Bem, é só um torneio em todo o ano. Tenho que ser paciente e ver o que eu posso fazer nos outros torneios.
P – Você ficou com medo da Copa Davis depois de ter perdido esse jogo de hoje?
Guga – Para falar a verdade, eu não sei.Como eu disse antes não sei o que vai acontecer na próxima semana. Não sei se vou estar em condições de jogar a Copa Davis. É difícil dizer alguma coisa. No momento, não me sinto com forças e com capacidade para jogar a Copa Davis. Não vou dizer que vou, nem que não vou, por que não é o momento correto. Tenho que pensar e esta vai ser uma das decisões que terei que tomar nos próximos dias.