São Paulo – Veja a seguir a transcrição da primeira entrevista concedida por Gustavo Kuerten depois de sua cirurgia. Ele falou nesta sexta-feira em Florianópolis
Guga - Fazia mais de 10 anos que eu não ficava. Vou poder estar um pouco mais perto da minha família e vou poder fazer uma recuperação legal aqui em Floripa, me energizar e ficar legal de cabeça.
Pergunta - Agora que a cirurgia já passou, o que você não pode fazer?
Guga - Tenho algumas restrições que são bem claras. Não posso jogar e isso é o mais estranho para mim. Acho que nos últimos 15 anos nunca fiquei um mês sem jogar. Vai ser o meu recorde de ficar longe da raquete e de dormir na minha própria cama. Eu não posso fazer nada que eu possa levar um tombo ou me machucar mais. Qualquer tipo de esporte é difícil. Para o dominó eu estou liberado. Gradativamente, depois de um mês, vou começar a fazer mais esforço.
Pergunta - É inevitável essa pergunta, mas dá para fazer uma comparação com o Norman?
Guga - Foi uma das razões que eu fiz com esse medico, o Dr Byrd, nos Estados Unidos. Com certeza o Norman foi um cara que me deu alguns parâmetros. O Levy, o israelita que treina com a gente em Camboriú, teve a mesma lesão e fez a cirurgia com esse cara também.
Mas já sei que as coisas que eles tinham eram muito mais complicadas que a minha. O Norman, por exemplo, ficou 4 meses sem caminhar. Eu não. Só usei muleta um dia. É uma recuperação diferente.
O lugar é muito delicado e internamente ainda está cicatrizando.Tenho o mesmo cronograma de reabilitação do Norman, só que específico para mim. O planejamento de exercícios na água, alongamento, exercícios com elástico. Cada ser humano é diferente e vai depender muito de eu sentir a confiança de ir pra quadra, me esforçar um pouco mais e, com a orientação dos fisioterapeutas ir me superando.
Pergunta - Como foi tomar a decisão da operação?
Guga - Não foi uma coisa fácil. Eu estava na melhor fase da minha carreira e surgiu uma lesão que me atrapalhou, só que não foi uma lesão como torcer o pé, romper os ligamentos, que eu tinha que parar obrigatoriamente. Até eu botar na minha cabeça que eu tinha que operar e deixar de lado os torneios, foi difícil. Eu sempre tinha a dúvida na minha cabeça se não dava para eu jogar. Na Argentina, não foi aquela dor sufocante, mas eu não acreditava mais no meu corpo, tinha receio de ir numa bola e não dá para jogar assim. Tenho certeza que eu fiz na hora certa. Eu tinha que me sentir à vontade para fazer a operação e o que os médicos me diziam é que a hora que eu sentisse que não dava mais era para operar e foi o que aconteceu. Foi meio de uma hora pra outra a decisão, mas foi quando eu senti que precisava mesmo. Fomos consultar o doutor nos EUA, a gente tinha boa recomendação dele, me senti legal com o cara, deu para encaixar o horário da cirurgia e fiz.
Pergunta - Como você está vendo a sua participação em Roland Garros?
Guga - O meu objetivo não é começar a me tratar para jogar Roland Garros 2002. Está mais do que claro que é o torneio que eu mais gosto e se eu tivesse que escolher um único torneio para jogar no ano, na vida, seria Roland Garros, só que não posso ir contra algumas coisas que são do ser humano e que agora fugiram um pouco das minhas mãos. Conversei com o Larri hoje e se de repente, 2 semanas antes de RG eu tiver condições de jogar, vou. Mas se chegar na última hora e ficar pensando vai dar ou não vai dar, não vou me apressar. De repente começo em Stuttgart, no saibro, ou em Wimbledon. Não dá para botar metas. Não seria o último Roland Garros que eu jogaria. Posso ter vários anos para jogar lá e não quero arriscar prejudicar a recuperação para uma carreira inteira.
Pergunta - Como vai ser a sua recuperação?
Guga - No segundo dia eu já não me lembrava mais direito que tinha feito a operação.
Aos poucos vou pegando a confiança de de repente dar uma corridinha, fazer um exercício mais forte. Tenho totalmente claro que o quanto menos eu conseguir provocar qualquer dor que seja, melhor para a minha recuperação. Vou estar por aí. Vou caminhar, passear e tudo isso faz bem pra mim. Fiquei nos EUA uma semana, por ser uma melhor opção para mim. Dava para ir numa praia, caminhar e isso é o tipo do exercício que não é programado, mas faz bem e sai da rotina de ir para o ginásio todo dia. O meu corpo assim também não perde a energia de fazer as coisas.
Pergunta - Como vai ser essa sua rotina agora, ,que vai ficar dois meses sem jogar?
Guga - Sou um cara muito mais elétrico. Mas é um outro lado. Vou poder meditar e ler um pouco. Acabei o Harry Potter 3, vou começar o 4, vou ver uns filmes, ir à praia. Não vou ficar de lá pra cá e surfando, mas vou estar curtindo estar com o pessoal. Eles estão programando o triatlo, sinuca, truco e dominó. A partir de segunda vou poder começar a trabalhar na água e aos poucos um reforço muscular. O quanto menos eu conseguir perder força na perna, melhor.
Vou seguir nessa rotina de duas horas por dia por um mês e depois vai aumentando.
Vou botando a minha cabeça no lugar, pensando nos meus objetivos daqui pra frente.
Os meus exercícios não t êm segredo nenhum. Não é nada que eu nunca tinha feito. Mas, o Larri vai estar comigo, acompanhando e vou fazer em casa, onde eu tenho os aparelhos, ou lá em Camboriú, em lugares onde eu fico super à vontade.