São Paulo - Os 90 minutos mais importantes dos 90 anos do Peixe. Assim pode ser descrito o jogo que deu ao Santos o bicampeonato mundial, 1 a 0 sobre o Milan, 1963, no Maracanã. Uma partida em que valeu muito mais a garra do que a técnica, e que é lembrada com nostalgia na semana do aniversário do clube.
"Dá a bola para mim que eu resolvo essa m...", gritava Almir, substituto de Pelé, machucado desde a primeira partida da decisão.
Endiabrado, o camisa 10 branco chutou a cabeça do goleiro Balzarini, distribuiu bordoadas em Maldini e fez Amarildo esconder-se em campo.
"Foi nosso maior título. Um dia memorável na história do Santos. O Amarildo estava muito solto na partida, então alguém (Almir) "chegou junto dele", que desapareceu da partida", relembra Dalmo, autor do único gol do título mundial, diante de um Maracanã com 110 mil pessoas.
O Milan até hoje reclama. Queixa-se da arbitragem do argentino Juan Brozzi, da violência santista e que vários atletas brasileiros estavam dopados. Anos antes de morrer, Almir confirmou que tomou "bolinhas" (anabolizantes) para jogar.
"Eles estão chorando depois de 40 anos? Haja lágrimas!", diverte-se Pepe, segundo maior artilheiro da história do clube, com 405 gols.
A situação do Peixe na final não era das melhores. Zito e Pelé, contundidos, não jogaram. E, do outro lado, estavam Amarildo, Altafini (o Mazzola), Maldini e Trapatonni.
"Fizemos tudo o que deve ser feito em finais deste porte. Irritamos, catimbamos e enchemos a paciência dos italianos. Foi uma partida de muita virilidade", recorda-se Pepe, usando palavras leves para descrever a violência dos mais inesquecíveis 90 minutos da trajetória alvinegra.
A lembrança de um demoníaco Almir até hoje não saiu da mente de Pepe. Um herói tão inesperado quanto Dalmo, autor do gol, em pênalti controverso cometido por Maldini.
"Eu não costumava bater pênaltis, mas treinava sempre. O Pelé cobrava e, sem ele, o natural era que a escolha recaísse sobre o Pepe. Mas nosso ponta tinha sofrido uma contusão durante a semana e pediu para eu bater. Meti uma "rosca" na bola, que parecia destinada a sair. Mas acabou entrando", explica Dalmo, um nome para a história.