O que
mais se pode dizer do que ocorre em nossa justiça (?) desportiva?
A decisão
tomada pelo Supremo Tribunal da área veio corroborar o que todos
nós, míopes, já sabíamos: - Não houve culpados! Haverá outro jogo!
Todos
os poderosos se curvaram diante do relatório do delegado da Federação
em campo: - Não dava prá ver se quem estava brigando nas arquibancadas
era da torcida do Vasco ou outra torcida (que outra?)... Ao árbitro
coube relatar que tudo estava em ordem e que a partida poderia ter
continuado. O resultado é que o maior culpado de tudo ou é o São
Caetano ou o governador do Estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho,
que, "frouxamente", quis poupar algumas ínfimas vidas.
Estamos
literalmente entregues à cega justiça, em todos os aspectos. Seja
ela desportiva ou não, perdemos o conceito de justiça. Num país
onde uns criminosos são diferentes dos outros, onde assassino diretor
é diferente de assassino pé-de-chinelo, contrabandista federal é
diferente de contrabandista dos morros, ladrão juiz é diferente
de ladrão povão, justiça (na verdadeira acepção da palavra) é o
que menos importa. O que importa é a condição social do infrator
ou criminoso.
A solução
para o jogo? Nova partida com promoção social de alguns políticos
(1 kg de alimento); pagamento de campeão ao São Caetano, independente
do resultado (R$ 400 mil) e a sua manutenção na 1ª divisão do malfadado
futebol brasileiro. Pasmem! O Vasco, se for campeão, leva mais de
R$ 4 milhões. Por que não dão este prêmio ao São Caetano?
O torneio não é o mesmo?
Como
tantos outros brasileiros já não acredito em mais nada. Justiça
tem preço, e liberdade (ou título) também!
Odair da Silva, 40 anos, é supervisor de vendas em Taboão
da Serra (SP)
Já era esperado
CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA SOUZA
Terça, 9 de janeiro de 2001
A decisão
do Clube dos 13 de realizar uma nova partida entre Vasco e São Caetano
é mais uma demonstração de de que o futebol brasileiro chegou, de
vez, às profundezas abissais do mar de lama em que se encontra,
sem previsão de retorno à superfície.
Mais
uma vez os dirigentes do futebol brasileiro se curvaram diante do
poder que o senhor Eurico Miranda exerce sobre a cartolagem futebolística
do país.
Imaginemos
que o São Caetano fosse o clube que tivesse o mando de jogo na partida
final, e acontecesse toda aquela tragédia de São Januário. Sem dúvida,
o Clube dos 13 faria cumprir o regulamento, proclamando o Vasco
da Gama campeão da Copa "João Havelange", pois o São Caetano seria
o responsabilizado pela paralisação da partida.
Mas
ainda resta um último suspiro do moribundo futebol brasileiro. Basta
que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva faça cumprir as determinações
do Código Brasileiro Disciplinar de Futebol e do regulamento da
Copa "João Havelange". Se isso ocorrer, o São Caetano será proclamado
campeão do pior e mais imoral torneio de futebol de todos os tempos.
Carlos Alberto de Oliveira Souza, 38 anos, é sociólogo
em Belém do Pará
Lamentável
RODRIGO FARNESI DE ARAÚJO
Terça, 2 de janeiro de 2001
Nestas
últimas semanas, pudemos acompanhar a "novela" envolvendo o meia
Alex, do Flamengo. O excelente jogador, de habilidade indiscutível
e que cairia como uma luva no meio campo do time rubro negro ao
lado de Petkovic, simplesmente vem se recusando a apresentar-se
na Gávea.
A atitude
do jogador é, no mínimo, lamentável, mostrando sua imaturidade e
falta de profissionalismo. Alex é titular do time, recebe seus altos
salários em dia, tem a simpatia dos torcedores, joga no clube de
futebol de maior torcida do mundo, mas está insatisfeito.
E seria
por qual motivo ? Pela falta de paixão que existe entre os atletas
profissionais atuais. Vemos Mauro Galvão com quase 40 anos sempre
disposto a entrar em campo e lutar por seu time. Romário exibe todo
seu talento e brilha nos gramados, apesar de ter patrimônio suficiente
para deixar de jogar futebol. Ronaldinho (o fenômeno), está "doido"
para recuperar-se de sua contusão e retornar aos gramados.
Agora
Alex não. Parece um menino mimado, alheio aos interesses do time
de maior torcida de seu país, e ignorando um clube onde todos os
jogadores de futebol sonham jogar. E o pior: sem qualquer motivo
justo.
Foi
bom acontecer tal fato neste momento, visto que jogadores sem motivação
não interessam ao Flamengo. Só servem ao rubro-negro atletas que
sintam orgulho em vestir a camisa do Flamengo e, sobretudo, respeitam
sua imensa torcida. Para quem não se enquadra nestas características,
mesmo que seja um craque como Alex, "a porta da rua é a serventia
da casa".
Rodrigo Farnesi de Araújo é advogado em Araxá
(MG)
As baixarias do senhor Eurico
LUIZ OTÁVIO VIANNA
Segunda, 1 de janeiro de 2001
Lamentável
a ocorrência no estádio São Januario. Mais lamentáveis ainda, ou melhor
dizendo, vergonhosas, as manifestações e baixarias do senhor Eurico
Miranda.
O nível
do futebol brasileiro nos dias atuais foi muito bem representado
por este dirigente do Vasco. Enquanto assistia pela TV a todo aquele
tumulto, vendo "cartolas" e tantas outras pessoas absolutamente
despreparadas para tomarem a decisão mais acertada, que seria exatamente
a suspensão do jogo; enquanto tantos procuravam garantir espaço
na mídia para destilar suas vaidades pessoais e arrogância, eu me
perguntava: que país é este, onde a segurança
de milhares de pessoas fica à mercê de caprichos pessoais?
Quando
a TV dava conta de que o jogo recomeçaria; quando eu mais uma vez
remoía por dentro uma sensação de impotência diante de tanta barbaridade,
surge a notícia de que o governador do Estado do Rio de Janeiro
determinara a suspensão do jogo. Senti um enorme alívio, uma satisfação
mesmo, por perceber que nem tudo está perdido. Ainda que estes momentos
sejam raros na vida nacional, vez ou outra, aqueles que detêm o
poder constituído se deixam "iluminar" e tomam uma decisão correta.
Parabéns,
governador. Prevaleceu o senso da responsabilidade. Venceu o compromisso
com o público. (Mais ainda eu iria admirá-lo, se o senhor questionasse
judicialmente o senhor Eurico Miranda pelas intempéries que disse
a seu respeito).
Resta-nos
torcer por todas as vítimas do acidente. Queira Deus que todas possam
estar recuperadas no menor espaço de tempo possível.
Para
finalizar, vai aqui um recadinho para os jogadores do Vasco, que
ao final, como que para completar o espetáculo já tão grosseiro,
julgaram-se campeões, dando a volta olímpica com troféu em punho.
Senhores jogadores: é uma pena, mas profissionalismo não
se compra no bar da esquina. Talvez por isso seja produto tão
escasso nesse reduto.
Luiz Otávio Vianna, 44, é administrador
hospitalar em Bauru (SP)
Natal com presente
de grego
Quarta, 27 de dezembro de 2000
Ainda não foi dessa
vez que o Cruzeiro conseguiu emplacar o tão sonhado título brasileiro.
No sábado, tudo parecia perfeito para a torcida cruzeirense sair
do Mineirão comemorando o Natal por antecipação. Time jogando em
casa, estádio lotado, vantagem do empate em até um gol e um adversário
cansado, sem a menor obrigação de vencer.
Mas
foi aí que Papai Noel apareceu trazendo um presente de grego: a
maior qualidade individual dos jogadores vascaínos, que simplesmente
entraram em campo desconhecendo o pseudo-favoritismo do time azul
cindo estrelas. Por mais que o técnico Luís Felipe queira colocar
a culpa da derrota na desobediência tática do time, não devemos
desqualificar os méritos do Vasco. Foi a vitória do talento sobre
o conjunto. Venceu quem tinha mais craques, mais jogadores com capacidade
de definir a partida. A perfeita cobrança de falta de Juninho, a
velocidade de Euller e o oportunismo de Romário superaram a garra
e a boa vontade do time cruzeirense.
E lá
se vai um segundo semestre traumatizante. Tanto na Mercosul quanto
no Brasileiro, o Cruzeiro foi desclassificado em casa, diante de
mais de sessenta mil cruzeirenses. Mas não se pode dizer que tudo
foi perdido. Em primeiro lugar, estes fracassos serviram para mostrar
que se o Cruzeiro quiser ser tri da Libertadores e Campeão do Mundo
vai ter que colocar a mão no bolso. O time é bom, mas insuficiente
para ser o melhor do mundo. Falta talento, falta o craque, falta
aquele jogador que a torcida vai buscar no aeroporto e carregá-lo
em passeata até a sede do Barro Preto.
Por
outro lado, este segundo semestre também serviu para nascer um novo
Cruzeiro. Um time com características nunca vistas até então. Um
Cruzeiro aguerrido, com raça, com uma enorme capacidade de superação.
Enfim, um time que nunca se entrega, que conseguiu viradas excepcionais.
Uma equipe encarnada na figura do lateral Sorín, um argentino de
puro sangue, símbolo da raça, que conquistou não somente a torcida
do Cruzeiro, mas todos que gostam de ver um futebol bem jogado.
Tomara que este espírito guerreiro continue ditando as regras na
Toca da Raposa.
E agora
a torcida brasileira fica perguntando? Vasco ou São Caetano? Quem
vai levar a João Havelange? Aqui entre nós: um campeonato que nasceu
de uma virada de mesa, desorganizado, com regulamento injusto, com
baixo índice de audiência na TV e pouco público nos estádios pode
até não ficar com o time do Vasco, mas que tem a cara do Eurico
Miranda, isso tem.
Régis Souto
O talento brasileiro
Getúlio Mendes Maciel
Terça, 19 de dezembro de 2000
Talento.
Essa é palavra que sintetiza a contribuição brasileira para o futebol
mundial nos ultimos 60 anos.
Durante
sua história, o futebol brasileiro apresentou um craque após o outro.
Quando, ao final da década de 40, alguns poderiam pensar que, no
Brasil, jamais viria a existir um novo Zizinho, eis que surge na
década seguinte Didi, craque brillhante que moldou a forma de jogar
das seleções de 58 e 62. Nesse periodo, desabrochou então um jovem
garoto de nome Édson. Na ocasião, não se poderia imaginar o que
seria seu futuro, e nem que seu apelido esquisito chegaria um dia
a tornar-se mais notório que o nome "Coca Cola", e que seria o jogador
mais premiado e homenageado de todos os tempos.
Paralelamente
no tempo, no Botafogo, existia um ponta direita irreverente e bailarino
chamado Manuel. Era conhecido como "Alegria do Povo" e só gostava
de driblar pessoas com nome de "João". E em São Paulo, o grande
Luisinho, "Pequeno Polegar", estava deixando o Corinthians. No seu
lugar ficava o jovem Roberto que, dentre tantas outras coisas, tinha
dribles curtíssimos e rápidos, chegando a popularizar o "elástico"
e seu chute mortífero de canhota.
Pelé,
Garrincha e Rivelino dispensam apresentações. Eu poderia continuar
gracejando com nomes como Zito, Djalma Santos, Ademir da Guia, Tostão,
Gerson, Jairzinho, Edu, Coutinho, Reinaldo, Falcão, Zico, Sócrates,
Romário, apenas para dizer que depois daqueles craques, a fonte
não secou e o Brasil continuou sendo um celeiro de grandes talentos,
que foram essenciais para as conquistas que nos colocam na elite
da elite do futebol mundial, sendo respeitados e temidos por todos
os outros adversários e seleções nacionais.
Mas,
hoje em dia, tal peculiaridade do jogador brasileiro parece estar
sendo degenerada aos poucos em favorecimento do interresse financeiro,
e por vaidades e caprichos de técnicos e dirigentes. Mesmo assim,
acredito na vocação futebolística de nosso país e nas nossas tradições
que leva milhares de garotos cheio de sonhos às "peneiras", e amantes
do futebol aos estádios ou utilizarem-se de recursos de mídia (televisão,
rádio e jornal).
Como
não acreditar em Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Alex, Ricardinho,
Vampeta, Roque Junior, Serginho, Émerson, Dida, Rogério Ceni, Júnior,
Cesar Sampaio, Antonio Carlos, se eles são os únicos craques que
nos restam??!!
Getúlio Mendes Maciel, 27, é
bancário e estudante universitário em São Paulo
O "mico"
da Fifa
ILAURO DE OLIVEIRA E SILVA
Sexta, 15 de dezembro de 2000
A mesma
frase usada pelos argentinos ("maldita Fifa") para protestar
contra a decisão da dona Fifa, quando esta resolveu dividir o prêmio
de melhor jogador do mundo entre Maradona e Pelé, corrigindo, assim,
o que seria o maior "mico" do futebol mundial em todos os tempos,
poderia também ser usada pelos brasileiros para protestar contra
essa absurda forma de escolher o melhor jogador do mundo pela Internet.
Só
mesmo uma entidade como a dona Fifa poderia ter uma idéia dessas.
Parece que deu um vento forte na Argentina e o tal pó preferido
por Dieguito foi parar justamente no cérebro dos homens que comandam
o futebol mundial. E o pior: parece que o tal pó também enlouqueceu
toda a Argentina que, num inconsciente coletivo, passou de repente
a acreditar que Diego Maradona pudesse ser realmente melhor que
Pelé.
A pretensão
de Maradona em ser melhor que o rei Pelé, é a mesma pretensão que
tenho em ser mais bonito que Leonardo Di Caprio. A Fifa permitiu
e a família de Maradona, ou seja, toda a Argentina, votou nele contra
o "rei" e ele ganhou. Talvez se Hollywood permitir que minha família
escolha entre Di Cáprio e eu, aí tudo bem, vou concorrer e vou ganhar.
Diego
Armando Maradona, embora tenha jogado muita bola (de futebol), não
chegou nem perto de Pelé. E nem de outros jogadores brasileiros
e do mundo afora. Dizem até as boas línguas que realmente entendem
do traçado que ele nem sequer foi o melhor jogador argentino.
Mas
tudo bem! Que se matem os argentinos para saber quem foi o melhor
jogador de seu país. De uma coisa nós brasileiros sabemos e o resto
do mundo também: ele, Maradona, não foi, nem de longe, o melhor
jogador do mundo.
Se
a dona Fifa tivesse feito essa eleição escolhendo os melhores jogadores
por décadas e não por um século inteiro, talvez aí sim o jogador
argentino poderia ser escolhido como o melhor da década de 80. Mesmo
assim teria que disputar com nomes de peso tipo Zico, Platini, Falcão
e outros.
Pessoalmente
acho que Reinaldo, centro-avante do Atlético Mineiro, jogou bem
mais que Maradona. Para não falar de Zico. Mas isso é outra história.
Vamos
deixar os argentinos sonharem. Sonhar não custa nada. Ou quase nada.
Às vezes pode custar uma decepção. Faz parte da vida.
Por
aqui também vamos sonhando. Sonhando com uma nova Fifa que não permita
que gênios da bola como Pelé e tantos outros sejam submetidos ao
ridículo de ter que provar a todo momento que jogaram o que realmente
jogaram. Cada gênio em seu tempo e cada tempo em seu lugar. Que
aprenda isso a Maldita Fifa.
Ilauro de Oliveira e Silva, 27 anos,
é estudante de História, Cachoeiro de Itapemirim (ES)
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