As paralisações se tornaram o maior pânico da Fifa na África do Sul. Logo nos primeiros dias a entidade, em reuniões especiais com a presença do secretário-geral Jerome Valcke, identificou que o COL não tinha o menor controle sobre a situação. É tratado como um dos pontos mais sensíveis, já que afeta diversos setores, principalmente segurança e transportes.
No dia da abertura do Mundial, durante a entrada de torcedores de Uruguai e França no Estádio Green Point, na Cidade do Cabo, seguranças deixaram seus postos de trabalho em protesto. Longas filas se formaram. Voluntários foram convocados às pressas, treinados em poucos segundos sobre como agir na revista de segurança e conferência de ingressos.
Era só a ponta de iceberg. Considerada uma das sedes mais importantes do evento, a Cidade do Cabo voltou a ter problemas logo no segundo jogo. Seguranças da partida entre Itália e Paraguai se declararam em greve três horas antes do encontro.
No terceiro dia do evento, depois da goleada da Alemanha por 4 a 0 sobre a Austrália, no Estádio Moses Mabhida, em Durban, cerca de 300 de funcionários protestavam contra o pagamento insuficiente por seus serviços e entraram em confronto com policiais. Com direito à detonação de duas granadas, uso de gás lacrimogênio e disparo de balas de borracha.
No quinto dia da Copa, cinco horas antes da estreia do Brasil contra a Coreia do Norte, foi a vez de centenas dos funcionários dos serviços de segurança protestarem do lado de fora do Estádio Ellis Park, em Johannesburgo. Reclamavam os 410 rands supostamente prometidos por cabeça pela organização, que só teria pagado no dia 190 rands.
E os focos de greve pipocaram nos dias seguintes nas três cidades. O COL se viu obrigado a tomar uma medida extrema. Cancelou o contrato com a empresa de segurança privada Stallion e entregou os quatro estádios das cidades à polícia – além dos citados acima, também o Soccer City, em Johannesburgo, que será o palco da grande final.
Os organizadores convocaram a imprensa para registrar e promover um espetáculo deprimente no qual os agentes dispensados eram obrigados a devolver seus coletes de identificação dos seguranças da Copa. Depois de caminhar em uma longa fila, sob os olhares repressores da polícia, os trabalhadores se uniram do lado de fora para marchar em protesto mais uma vez.
Desde a entrega da segurança dos quatro estádios à polícia, o porta-voz oficial do COL, Rich Mkhondo, repete apenas que não quer mais falar sobre o assunto. Diante da insistência da reportagem do Terra, solicitou o envio de um e-mail, o qual respondeu com uma cópia do comunicado da polícia sobre o acordo. E indicou que fosse procurada a assessoria de imprensa da polícia sul-africana.
"Assumimos o controle da situação destes quatro estádios há alguns dias e garanto que nossos homens foram treinados para fazer toda a checagem nas entradas. Se aconteceram alguns problemas no Soccer City e no Ellis Park recentemente, tenho certeza de que situações como essa não voltarão a acontecer no futuro", disse Sally de Beer, porta-voz da polícia.
Além da paralisação dos funcionários de segurança, também foram registradas greves no transporte público em Johannesburgo e na Cidade do Cabo. No caso mais grave, aproximadamente mil torcedores ficaram a pé após o duelo entre Holanda e Dinamarca, no Soccer City. Motoristas de ônibus se negaram a trabalhar.