Copa 2010 – O Mundial da desorganização

Cidade do Cabo, 19 de junho: Tráfego grande na principal via para o Estádio Green Point no dia da partida entre Inglaterra e Argélia pelo Grupo C. Foto: Getty Images

Trânsito

O problema dos transportes na África do Sul, que tem uma economia em desenvolvimento, não é novidade para ninguém. O transporte público do país é precário, vítima do apartheid - sistema político de segregação racial que vigorou oficialmente entre 1948 e 1990. Como brancos e negros não podiam conviver nos mesmos espaços, também não podiam se deslocar juntos. Como resultado, o desenvolvimento da malha não foi interligado e não está até hoje. O carro particular é principal meio de transporte.

Ciente pelo menos desde a Copa das Confederações de que o problema dos transportes era uma bomba relógio, a Fifa disse que a solução do COL seria o uso de ônibus fretados – para torcedores e profissionais. Solução ineficaz. Os ônibus são precários. A maioria preferiu alugar carros. E os congestionamentos apavoram.

Desde os amistosos preparatórios que as seleções realizaram em solo sul-africano às vésperas da Copa as longas filas de carros impressionam. E logo no dia de abertura o “anda e para” dos carros até o Estádio Soccer City levou cerca de duas horas. Muitos abandonaram seus veículos em qualquer canto para caminhar e não perder o jogo.

E muitos perderam o jogo de abertura. O próprio COL culpou o trânsito quando foi questionado sobre os assentos vazios no Soccer City apesar dos ingressos esgotados. Os organizadores ainda tiveram a brilhante ideia de colocar voluntários nos lugares vazios para maquiar os buracos nas arquibancadas.

O COL se resume a repetir que aconselha o uso do transporte público. Exatamente o sistema que não dá conta da demanda e está sujeito a greves. Ou seja, um discurso programado, tão ineficaz quanto à sugestão.

"Ainda encorajamos os torcedores a continuar usando o transporte público. Foi criada uma comissão pela Fifa, pelo COL, pela Polícia Rodoviária e pelas cidades-sede para garantir que os torcedores que vão aos estádios saibam onde estão indo e que cumpram as regras", disse ao Terra o porta-voz oficial Mkhondo.

Foram gastos 170 bilhões de rands no sistema de transporte no período de 2005 a 2010. Desses, 25 bilhões foram destinados à construção do trem bala na província de Gauteng, que contém as cidades de Pretória e Johannesburgo.

Com previsão de terminar todas suas linhas apenas em junho de 2011, o trem pretendia aliviar o trânsito do Aeroporto Internacional OR Tambo para o bairro de Sandton, onde se concentra o maior número de hotéis de Johannesburgo.

Porém, foi inaugurado apenas três dias antes da abertura da Copa e ainda tem baixa procura dos torcedores estrangeiros e dos próprios cidadãos da cidade, que tem pouco conhecimento sobre a novidade.

Terra