O dia em que “enchi a cara” com o carrasco Paolo Rossi
Entre um gole e outro conversamos sobre a tragédia de Sarriá, em 82
No supermercado em Roma descobri que o carrasco de 82 também fazia vinhos e acabei levando algumas garrafas. Era um bom vinho, o vinho do Rossi. Vinha da região da Toscana. Depois de mais um dia de descobertas por Roma tomei um bom banho e abri a garrafa. Minha companheira me acompanhou na primeira taça, mas disse que iria descansar.
Ficamos só eu e o Paolo Rossi. E a cada gole voltava a imagem dos três gols do Bambino D’Oro, o que me fez chorar novamente, quase trinta anos depois da tragédia de Sarriá.
Inconformado com a cena patética que protagonizava naquele instante, fui surpreendido com a TV ligando sozinha. A RAI estava mostrando o vt do jogo entre Brasil e Itália. Foi quando recebi um tapa no ombro. “Esse foi um jogão hein? Final antecipada da Copa.”
Sim, concordei, e só aí me dei conta de que Paolo Rossi estava ali do meu lado. Eu já estava na segunda garrafa, mas não podia ser delírio. Decidi dar aquele abraço no carrasco.
Entre um gole e outro, comentávamos as jogadas e eu ficava impressionado com o respeito e o carinho que Paolo Rossi tinha com a nossa Seleção. Enquanto a bola rolava na TV, ele soltou a frase: “o futebol mudou muito e pra pior.”
Como não concordar? Nesse momento, Rossi marcava o terceiro gol e não quis comemorar. Preferiu me consolar: “o time do Brasil era fantástico, mas a nossa Seleção também era muito forte.”
Fim de jogo, fim de papo. Rossi agradeceu pelo vinho e pela hospitalidade. Eu agradeci pela companhia e fiquei me perguntando como um carrasco podia ser tão gente fina.
Capotei no sofá e fui sacudido pela minha mulher no dia seguinte. Queria começar a contar logo a história, mas ela não me deu tempo. “Amor, vim te buscar na madrugada porque a tv estava ligada e fora do ar. Mas você não me deixou nem falar. Abraçado a uma garrafa de vinho, só repetia a frase: por que, Paolo Rossi? Por que?”
Pois é, por que Paolo Rossi?
Descanse em paz, craque!