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México - 1968
A realização dos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México, entre 12 e 27 de outubro, marcou a estréia da América Latina como sede da competição. A escolha da cidade, em 1963, causou polêmica. O cinema norte-americano havia criado uma imagem negativa do país. Como se a população fosse formada por bandidos e bêbados que, abrigados por um largo sombreiro e à sombra de um cacto, transformavam o dia numa sesta interminável. Mais: se o mexicano estivesse acordado, era para assaltar um vilarejo perdido no deserto.
Além do preconceito, havia uma questão geográfica. A capital do México está situada a 2.240 metros acima do nível do mar, o que poderia provocar resultados falsos para as provas, além de pôr em risco a saúde dos atletas. Nesta altitude, o ar é mais rarefeito.
Se não bastassem estas questões levantadas pelos observadores internacionais, o México apresentava problemas internos. Como não estava nem perto de ser um país rico, houve vários protestos contra os gastos exigidos pela organização do evento, cerca de US$ 50 milhões.
Uma semana antes da competição se iniciar, ocorreu um tiroteio na frente do Hotel Maria Isabel, onde o Comitê Olímpico Internacional estava instalado. Os estudantes reclamavam do abandono das obras da Cidade Universitária por falta de verbas. Em outro choque muito mais grave, conhecido por Massacre de
Tlatelolco, a polícia reprimiu violentamente uma manifestação na Praça dos Três Poderes. Mais de 80 estudantes foram mortos. Na época do evento, a população da capital mexicana era em torno de 8 milhões.
Passados as confusões e os temores preliminares, os Jogos Olímpicos começaram com sucesso. Além de bem organizada, a competição se favoreceu de algumas novidades. A pista de
tartan, material sintético que substitui a areia, foi utilizada pela primeira vez. Também estreava o
"port-a-pit", colchão de espuma que amortece a queda no salto com vara.
Apesar de toda organização, não houve como eliminar o problema da altitude. Se nas provas de resistência os resultados foram desastrosos, nas de velocidade e salto registraram-se marcas consideradas impossíveis. Como a do norte-americano Bob
Beamon, que no salto em distância chegou a 8m90cm, 55cm a mais que o recorde anterior. Seu conterrâneo Jim Hines alcançou 9s90 nos 100 metros rasos, uma marca que parecia inatingível para um ser humano.
A discriminação racial protagonizada pela África do Sul, que pretendia mandar para a competição apenas atletas brancos, e pelos Estados Unidos, onde os negros também sofriam segregação, gerou revolta. Os corredores norte-americanos Tommie Smith e John Carlos subiram ao pódio para receber medalhas dos 200 metros rasos. Depois ergueram o punho esquerdo, cerrado e vestido com luvas pretas, em direção à bandeira norte-americana. Era o gesto característico do Black
Power, o movimento norte-americano de luta pelo poder negro.
Os Jogos Olímpicos do México foram abertos em 12 de outubro de 1968 com 21 tiros de canhão. A morte dos estudantes havia criado um clima de tensão, por isso centenas de policiais fortemente armados participaram da cerimônia. Enriqueta Basílio
Sotelo, recordista mexicana nos 80 metros com barreiras e 400 metros rasos, entrou no Estádio Universitário carregando a tocha olímpica ao som de
Zandunga, uma tradicional canção mexicana. Enriqueta, até aquele momento a melhor atleta mexicana de todos os tempos, foi a primeira mulher em toda a história olímpica a carregar a tocha trazida de Atenas. Durante a cerimônia, houve uma revoada de 10 mil pombos. Também foram soltos 40 mil balões. Ao final, o povo invadiu o campo para saudar de perto os atletas.
Ao contrário dos japoneses, que na Olimpíada de 1964 pretenderam mostrar sua ocidentalização, os mexicanos deixaram claro o quanto se orgulhavam de ter ascendentes índios. A Cidade do México, a mais antiga do continente americano, foi construída entre 1521 e 1524 sobre os escombros de
Tenochtitlán, antiga capital do Império Asteca. Na Vila Olímpica, era possível comer a tradicional comida do país, o que despertou alguns casos da "vingança de
Montezuma". Assim são conhecidos os problemas digestivos provocados pelo forte tempero da comida mexicana.
Nesta Olimpíada, as mulheres tiveram de se submeter, pela primeira vez, a teste de feminilidade. Nenhuma foi reprovada.
As redes de televisão norte-americanas transmitiram os Jogos para 400 milhões de telespectadores em todo o mundo, utilizando 45 câmeras, com um total de 45 horas de transmissão em cores.
Os Jogos do México também marcaram a introdução da pista de tartan para o atletismo. Feita de material sintético, permite maior equilíbrio e velocidade aos atletas.
* É a primeira e única Olimpíada Moderna a se realizar num país latino-americano. A escolha não é feliz. O México se encontra em plena efervescência política, como aliás, todo o mundo, contra a política conservadora de seu governo.
* Uma grande mobilização estudantil acontece na França, em maio de 1968. Através de barricadas e mobilizações gerais, os estudantes arrastam os trabalhadores para uma greve que coloca em xeque o governo de Charles De
Gaulle.
* Os Estados Unidos também são sacudidos por violentas manifestações estudantis. No país, somam-se aos estudantes, os negros, que desde 1966 estão mobilizados contra a discriminação racial. O assassinato de Martin Luther King, em 1968, expressiva liderança negra, recrudesce o movimento.
* O bloco socialista não escapa da explosão estudantil. Nas manifestações da Primavera de Praga, em 1968, e após a invasão das tropas soviéticas, eles reivindicam a liberalização do regime.
* Na China, em 1965, tem início a Revolução Cultural, incentivada por Mao Tsé-Tung e apoiada com entusiasmo pela juventude chinesa.
* No Brasil, após vigorosas manifestações populares lideradas por estudantes (passeata dos cem mil na Candelária), o governo militar decreta o AI-5. Começa pesada fase de repressão.
* O ano de 1968 marca, na América Latina, a conversão da esquerda letrada em esquerda armada. A mudança é conseqüência da difusão do pensamento de revolucionários como Che Guevara e Regis
Debray.
* Além das manifestações estudantis, este final de década registra o início das manifestações
contraculturais. Crescem os movimentos pacifistas - o movimento hippie, contrários à presença norte-americana no Vietnã.
* No Oriente Médio, em 1967, eclode a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e israelenses.
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