Erradicar o trabalho infantil
é hoje um dos principais desafios no Brasil.
Embora a legislação proíba o
trabalho de menores de 16 anos e o País tenha
assinado convenções internacionais a
esse respeito, estima-se que cerca de 7,7 milhões
de crianças e adolescentes, entre cinco e 17
anos, continuem atuando em lavouras, carvoarias, olarias,
mercado informal, ambiente doméstico.
Segundo os especialistas, a última década
trouxe avanços, mas ainda há muito a
ser feito. "Diminuiu o número de crianças
trabalhando, aumentou a quantidade de projetos voltados
ao combate do trabalho infantil e houve mudança
na sociedade, que já não tolera mais
o problema", garante o gerente de articulação
política da Fundação Abrinq pelos
Direitos da Criança, Caio Magri. "E o
Estatuto da Criança e do Adolescente foi fundamental
para isso."
Magri lembra que mensagens como "lugar de criança é na escola"
têm conseguido sensibilizar e mudar pensamentos.
"Estamos no caminho certo e temos capacidade
para, em poucos anos, erradicar o trabalho infantil
no Brasil, se houver vontade política e decisão."
A coordenadora nacional do Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), Andréa Bolzon,
diz que outra boa notícia é o aperfeiçoamento
da fiscalização. Além disso,
a ação do Fórum Nacional de Prevenção
e Erradicação do Trabalho Infantil,
criado em 1994, ajudou a reunir trabalhadores, empregadores,
governo e ONGs para discutir o problema. Juntos, eles
ajudaram a montar estratégias, como os programas
de bolsa-escola e de complementação
de renda. Hoje, 146 mil crianças recebem auxílio
e o Ministério da Previdência e Assistência
Social promete incluir no programa outras 215 mil
crianças e adolescentes, entre sete e 14 anos,
até o fim do ano.
Desafios - No entanto, sobram desafios. Um
dos principais é revelar e atuar sobre formas
de trabalho menos aparentes, que podem ser extremamente
violentas do ponto de vista moral, físico e
psicológico, como o trabalho doméstico,
a exploração sexual e a comercialização
de drogas.
Estima-se que haja 400 mil empregadas domésticas
menores de 16 anos no País e outros milhares
de jovens atuando no mercado informal, distribuindo
panfletos, trabalhando com perueiros, servindo no
comércio.
Outro problema é ajustar alguns programas adotados. Em lugares onde
foi criada a bolsa-escola, por exemplo, há
casos de garotos voltando ao trabalho, depois de deixar
de receber o auxílio. Isso, segundo Magri,
é uma distorsão que precisa ser corrigida.
Ele lembra ainda que é necessário ficar
de olho no que vem sendo feito. "Precisamos abaixar
o mais breve possível o vergonhoso número
de três milhões de crianças de
dez a 14 anos trabalhando e isso se faz por meio de
vontade política, orçamento público
e mobilização", diz.
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
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