Especialistas falam sobre polêmicas envolvendo livros didáticos

Para o diretor de assuntos educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno de Araújo Filho, os problemas em alguns materiais distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC) mostram que o sistema de seleção dos livros precisa melhorar. "O MEC está falhando, é preciso ter mais cuidado com os materiais que serão parte da educação de muitas crianças e jovens no País".

Araújo acredita que os professores, na hora de escolher os livros para as suas turmas, também acabam falhando. "Os educadores precisam de tempo para analisar os materiais e identificar essas falhas antes da escolha", aponta. "Os Estados e municípios não garantem a hora aula dos professores para isso, não deixam tempo dedicado para essas atividades. Essas falhas que ocorrem são grandes e não é uma questão só dos livros, e sim de todo o sistema", afirma ao ressaltar a importância da valorização da educação.

O diretor da Confederação dos Trabalhadores em Educação afirma ainda que se todo o processo de seleção dos livros deixou passar materiais com erros, é dever dos professores identificá-los em sala de aula e fazer as correções com os alunos, explicando que houve erro. Ele afirma ainda que os educadores devem comunicar o MEC sobre os problemas para que providências sejam tomadas.

Segundo Araújo, atribuir a falta de qualidade na educação brasileira a erros em livros didáticos é um equívoco, porque "o problema é muito maior". "A educação de qualidade não se baseia no livro, que é um instrumento auxiliar. Muitas vezes o livro é a aula, o professor pega aquilo que está pronto e coloca como aula. Se ele tiver mais tempo para preparar as atividades, o livro assumirá seu verdadeiro papel, que é dar suporte ao ensino".

O presidente da Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos (Abrale), José De Nicola Neto, concorda que o livro didático é uma ferramenta auxiliar na educação. "O livro é um instrumento importante, mas não o único. Se o livro é bom e o professor não sabe passar o conteúdo, não adianta de nada. Isso passa pela formação do professor, temos carências muito grandes na educação", afirma ao ressaltar que a implementação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) já foi um grande avanço para o País em termos de qualidade na educação.

"A avaliação dos livros didáticos, que começou em 1996, trouxe melhoria para a qualidade dos materiais distribuídos nas escolas. O problema é que esse sistema, ao longo dos 15 anos, começou a se tornar um pouco viciado. Temos dialogado com o MEC para que o modelo de avaliação seja revisto e o próprio ministro (Fernando Haddad) já defendeu isso".

Autor de livros de português, Neto afirma que o trabalho de produção de uma coleção de livros didáticos se desenvolve ao longo de dois a três anos. "É um processo longo, um trabalho que passa pela correção das editoras, que são especializadas nisso, e depois ainda passa por uma avaliação pedagógica, por leituras críticas de professores e acadêmicos para evitar erros no conteúdo e nas propostas pedagógicas".

Sobre a polêmica envolvendo o livro de português que aborda a norma popular da língua, o especialista afirma que essa é uma postura da linguística moderna. Neto classifica como "absurda a postura de alguns veículos de comunicação e políticos" sobre o tema. "O livro não diz para o aluno falar errado, ele mostra que o papel da escola é respeitar os falantes da norma popular e dizer que tem também a norma culta. Os bons livros produzidos no Brasil, de 1996 para cá, todos têm essa postura, isso está nos Parâmetros Curriculares Nacionais", conclui o autor de livros didáticos.

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