Na mesma medida em que a fiscalização torna-se cada vez mais rígida, encontrar ouro fica mais difícil no Amapá. Segundo garimpeiros e autoridades locais ouvidas, o chamado “ouro primário” não é mais extraído com facilidade. Ao mesmo tempo, autoridades judiciais e policiais apertam o cerco contra o exercício da atividade.
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Terra acompanhou uma ação de 20 homens
A população, que era de cerca de 6 mil pessoas, passou a 12 mil em 2000 e a mais de 20 mil em 2010, segundo dados do censo
do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar amapaense em um garimpo de Lourenço, a cerca de 200 km do Oiapoque. Cumpriam ordem judicial de lacrar o maquinário do garimpo. Como forma de evitar um possível confronto com os garimpeiros, a ação foi realizada por volta das 16h, quando a maioria já tinha parado de trabalhar.
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Homens trabalham no garimpo de Lourenço. Foto: Fernando Borges/Terra
Foram interditadas na data máquinas de sucção, chamadas “chupadeiras”, deixando as retroescavadeiras, que fazem o trabalho de revirar a terra em busca do chamado “veio”, de onde é extraído o ouro. A degradação ambiental do lugar, explorado desde a década de 1970, é nítida no desmatamento e na poluição de igarapés com mercúrio. A cidade, com algumas centenas de moradores, foi fundada a partir do garimpo.
”Em todas as situações de garimpo, mesmo as legais, percebe-se a grande degradação ambiental. Aqui não existem os documentos que comprovem a regularização”, disse o major Paulo Matias, comandante do Bope do Amapá durante o trabalho de lacração do material. Emocionado, o vice-presidente da cooperativa Coogal, que explora o garimpo de Lourenço atribui ao passivo herdado de uma mineradora particular os problemas ambientais.
Reportagem acompanha ação fiscalizatória em garimpo amapaense e o drama de quem pode perder a fonte de renda. Vídeo: Fernando Borges/Terra
“Precisamos de um prazo para nos adequarmos. Será que fechar o garimpo é a solução? E todas as famílias que dependem disso aqui, irão para onde? Sabemos que estamos errados e queremos um prazo”, afirmou João Evangelista.
Lugar que tem garimpo tem prostituiçãoDaniel Fernandes Figueiredo, Delegado
Segundo o deputado federal Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), integrante de um grupo de trabalho que acompanha o empreendimento e as negociações para mitigar seus impactos ambientais e sociais, o clima equatorial é determinante para o ritmo lento da construção. "Nos meses do chamado inverno, quando chove todos os dias, entre janeiro e junho, não se fazem obras rodoviárias ", disse.
Motivações
Horas antes da ação policial, garimpeiros explicaram enquanto trabalhavam qual é a motivação por trás da atividade. Mais que o lucro fácil, o trabalhador do garimpo é movido por um misto de falta de instrução e vício. “O garimpeiro tem uma teoria meio fora da lógica. Ele trabalha 3, 4 meses sem ganhar nada, ganha R$ 1 mil em ouro ele diz ‘este é o lugar para trabalhar, esquece aqueles meses que trabalhou sem ganhar nada. Você se vicia”, diz o garimpeiro Antenor Teixeira Neto, 44 anos, 30 deles extraindo ouro.
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Explorador do famoso garimpo de Serra Pelada nos anos 1980, ele admite ter ganho dinheiro com ouro no Lourenço, mas diz que deveria ter feito um pé de meia para conseguir melhorar de vida e ajudar mais a família, que mora no Maranhão, seu Estado de origem. “Você ganha 100 gramas de ouro, diz que quando ganhar 200 gramas para. Consegue as 200 gramas, fala que com 300 para. Quando ganha as 300 fala ‘quando inteirar um kg’ eu paro’ aí gasta as 300 g que tem e sempre fica nessa”, diz.
HistóricoO extrativismo é uma característica histórica da região do Oiapoque, no extremo norte do Amapá. Tanto os madeireiros quanto o que explora minérios – em especial manganês, ouro, níquel, caulim e petróleo. O garimpo, em especial no rio Cassiporé, foi responsável pelo crescimento desordenado da cidade que faz fronteira com a Guiana Francesa.
A população, que era de cerca de 6 mil pessoas, passou a 12 mil em 2000 e a mais de 20 mil em 2010, segundo dados do censo daquele ano realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A atividade estimula o comércio na cidade, onde são fornecidos produtos essenciais à atividade: pás, motores e galochas, entre outros itens. Também são notáveis os estabelecimentos de compra e venda de ouro, além de fabricação e consertos de joias e hotéis e pousadas.
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Bope lacra equipamentos de mineração. Foto: Fernando Borges/Terra
Na maioria dos lugares onde há extração e circulam os recursos do ouro, encontra-se também aquecido o mercado do sexo. “Lugar que tem garimpo tem prostituição”, afirmou um delegado de polícia do Oiapoque, Daniel Fernandes Figueiredo. Uma das explicações é o isolamento na floresta necessário a quem se dedica à atividade. Na volta, munido de ouro, o garimpeiro acaba extravasando semanas ou até meses de privação e gastando tudo o que amealhou.
Lourenço, AP, fica a cerca de 200km do Oiapoque. Foto: Fernando Borges/Terra
O garimpeiro tem uma teoria meio fora da lógica. Ele trabalha 3, 4 meses sem ganhar nada, ganha R$ 1 mil em ouro ele diz: 'este é o lugar para trabalhar'Antenor Teixeira Neto. garimpeiro
A escassez do ouro do lado brasileiro da fronteira faz com que muitos se aventurem no Plateau das Guianas, arriscando serem presos e deportados, além de terem apreendidos os frutos de meses de trabalho. Também existe a eventualidade de doenças características das regiões tropicais.
Mas quem empregou décadas na atividade não desanima e acredita em ajuda divina. “Se o homem lá de cima está olhando pra gente ele vai dizer onde que (o ouro) está”, confia Antenor num largo sorriso.