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AMAZÔNIA
Diário de Bordo

16 de maio
A estranha primeira noite a bordo

A ótima receptividade da tripulação do Amazon Guardian não aliviou a estranha sensação da primeira noite a bordo. Para quem vive em São Paulo é um pouco "diferente" não poder dar um pulo no mercado da esquina para comprar algo que possa faltar. Mas a estranheza passa rápido. Não há nada que precise ser comprado "no mercadinho". O navio está equipado com tudo que é preciso, desde frios para o café da manhã até papel higiênico biodegradável. Há até uma cervejinha para o fim de tarde - mas cada um marca quantas consome e paga a parte. Mesmo que falte algo, há sempre alguém disposto a emprestar. Uma velha camiseta de manga comprida para me proteger dos mosquitos foi o empréstimo mais valioso que alguém me fez hoje quando, com um bote, entramos em um pequeno braço de rio em busca de madeiras extraídas ilegalmente. Mesmo assim, minhas mãos e meu pescoço são prova de que não há repelente 100% eficiente.

Um grande e organizado albergue flutuante

A primeira sensação quando se embarca no Amazon Guardian é a de estar em um grande e organizado albergue flutuante. São quase 40 pessoas a bordo e mais de dez diferentes nacionalidades. O inglês é a língua oficial no navio. Não há empregados. O coordenador da campanha, o voluntário, o marinheiro, o fotógrafo: todos têm o seu dia de lavar a louça ou de limpar o chão, tudo em uma escala pré-definida fixada na parede da cozinha.

Para que a ordem seja mantida, há uma rotina de horários que ninguém reclama em obedecer: às 7h15 a pessoa que fez a guarda durante a madrugada é responsável por acordar toda a tripulação; às 8h todos já devem ter tomado café para que alguém (cujo nome está na lista do dia) limpe a cozinha; o almoço é servido ao meio-dia e o jantar, às 18h. Quem não tem tarefas noturnas, passa o tempo jogando xadrez, ping pong, assistindo a filmes em um grande telão instalado em um salão chamado de teatro ou batendo papo na cozinha, que serve também de sala de reuniões.

Não há divisão entre tarefas masculinas e femininas. Há homens limpando a cozinha e mulheres pilotando o avião. Entre os voluntários e os contratados, o clima é o mesmo: comprometimento e profissionalismo.

Cristina Bodas
Enviada especial à Amazônia

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