Cristina
Bodas
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Instrumentos
são feitos somente com madeira da Amazônia
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Rubens Gomes,
de 40 anos, começou a estudar música ainda criança no Amapá. Para
conseguir dinheiro para manter seus estudos decidiu consertar instrumentos.
Nasceu assim sua profissão e seu ideal de vida. Há cerca de dois
anos fundou, em Manaus, a Oficina Escola Lutheria da Amazônia, a
única instituição de ensino da arte de produzir instrumentos a receber
um selo verde em todo o mundo.
Na produção
de seus instrumentos, a oficina só trabalha com madeira da Amazônia
que possui certificação de origem. Como a maioria das madeiras nobres
tradicionalmente utilizadas em instrumentos está em extinção, eles
as têm substituído pelas amazônicas que não estão em risco. Uma
vez que o tipo de madeira influencia no som dos instrumentos, o
resultado tem sido violões, cavaquinhos e violas com novas sonoridades.
"O som fica muito melhor", garante o professor Robson Feichas Vieira.
"Ao produzirmos
instrumentos com madeira certificada da Amazônia mostramos que é
possível fazer um uso racional da floresta", diz Rubens. "Queremos
fazer com que as pessoas entendam a necessidade de se investigar
sempre a origem do produto que estão consumindo, de se ter certeza
de que aquilo que estão comprando não está contribuindo para a destruição
do meio ambiente", complementa.
Cristina
Bodas
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Oficina
conta hoje com cerca de 50 estudantes
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Para Rubens,
a produção do instrumento é, na verdade, um detalhe no projeto de
cidadania que "se esconde" por trás da escola. Estrategicamente,
ele escolheu uma das áreas mais pobres de Manaus, o Zumbi, para
montar a oficina. Tem dado, assim, uma oportunidade de estudo e
de aprendizado para adolescentes do bairro. A oficina conta hoje
com cerca 50 estudantes com idades entre 14 e 21 anos que durante
quatro horas por semana têm aulas gratuitas de educação ambiental,
iniciação musical e lutheria (confecção do instrumento). Para controlar
a evasão que começou a ocorrer, a escola desenvolveu um "programa
de adoção". Para adotar um aluno é preciso pagar R$ 150 por mês,
valor igualmente dividido entre o estudante e a escola.
A primeira etapa
do curso tem duração média de um ano e meio. A turma que está se
formando terá a oportunidade também de fazer um estágio prático
na Escola Agrotécnica Federal de Manaus. Além da escola, a oficina
conta hoje com o apoio de outras entidades como a organização não-governamental
Imaflora, a Fundação Ford e o BNDES, mas Rubens ainda está em busca
de mais financiamento para transformar o projeto experimental em
uma pequena linha de produção. "Entretanto, nosso objetivo não é
fazer desse projeto um gerador de recursos", diz. "Mais importante
do que formar técnicos, é criar cidadãos", afirma.
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