Ser acordado e exposto à luz durante a noite pode alterar o relógio biológico de uma pessoa nos dias seguintes, demonstrou um novo estudo. Os pesquisadores verificaram ainda que ser despertado à noite - mesmo em um quarto escuro - também altera o ritmo do corpo, ainda que em um grau menor. O despertar parece provocar um "atraso" no relógio biológico, retardando a liberação de hormônios e outros processos orgânicos num período que varia entre meia e uma hora.
A interrupção do sono não prejudica a saúde, mas uma pessoa que passa por esse atraso no relógio biológico "pode se sentir cansada pela manhã e mais ativa no início da noite", explicou Samir Bangalore, pesquisador do Laboratório de Pesquisa do Sono e dos Ritmos Circadianos da Escola de Medicina da Universidade Northwestern, em Chicago (Illinois). Os resultados do trabalho também oferecem pistas para tratar a depressão sazonal e outros distúrbios caracterizados por irregularidades no relógio biológico, disse o especialista.
Bangalore apresentou a pesquisa na quinta-feira, durante o encontro anual da Academia Americana de Neurologia, realizado em Denver (Colorado). Os seres humanos e muitas outras espécies têm um relógio biológico de cerca de 24 horas, que ajuda a regular os padrões de sono, os níveis de energia e também controla a secreção de hormônios e outros processos biológicos. Esses padrões diários são chamados de ritmos circadianos.
A equipe de Bangalore testou em 32 voluntários saudáveis os efeitos que o despertar e a exposição à luz durante à noite provocam sobre os ritmos circadianos. Os participantes dormiram uma noite no escuro por oito horas, no horário a que estavam acostumados. Na noite seguinte, alguns deles foram acordados e expostos à luz por uma, duas ou três horas. Como "controle", alguns pacientes foram mantidos acordados durante um tempo variável, mas não foram expostos à luz.
Os pesquisadores avaliaram a situação do relógio biológico ao medir a secreção de melatonina. A liberação desse hormônio atinge o pico à noite e é parcialmente regulada pelo relógio biológico. "A exposição à luz por uma, duas ou três horas provocou atrasos significativos que variaram entre 35 e 75 minutos no ritmo circadiano do padrão da melatonina", disse Bangalore. Pacientes mantidos acordados por quatro horas sem exposição à luz também tiveram um retardo de meia hora na secreção de melatonina. Foram verificados pequenos atrasos em pessoas que ficaram acordadas no escuro por um tempo menor.
O pesquisador disse ainda que esses atrasos podem persistir por alguns dias. Por exemplo, uma pessoa poderia sentir os efeitos de uma atraso de meia hora na secreção de melatonina ao longo de três ou quatro dias. Bangalore lembrou que os resultados ajudam a "esclarecer a relação entre a duração da exposição à luz e a resposta do relógio biológico".
Na opinião do especialista, isso é importante porque o ritmo circadiano está associado a muitos problemas de saúde. Idosos geralmente têm ritmos biológicos adiantados e dormem e acordam cedo. Já os adolescentes têm ritmos atrasados. Ambas as situações podem provocar grave privação de sono. As pessoas que apresentam distúrbio afetivo sazonal (SAD, na sigla em inglês) geralmente têm alterações no ritmo circadiano. Alguns cientistas acreditam que a exposição à luz possa ajudar esses pacientes porque ela normaliza esse ritmo.