Estudos preliminares com camundongos indicam que a curcumina, encontrada no curry, pode bloquear a progressão da esclerose múltipla. De acordo com o pesquisador Chandramohan Natarajan, da Universidade Vanderbilt, em Nashville, Tennessee, camundongos com uma doenças parecida com a esclerose múltipla demonstraram poucos ou nenhum sintoma da doença depois de receberem curcumina. Já os animais que não passaram pelo mesmo tratamento desenvolveram uma paralisia séria.
"Conseguimos um resultado muito bom na inibição da doença ao tratar (os animais) com curcumina", disse Natarajan. Ele apresentou os resultados na terça-feira durante a conferência Biologia Experminental 2002, realizada em Nova Orleans.
Ainda não se sabe o que causa a esclerose múltipla, que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca o revestimento de mielina das fibras nervosas no cérebro e na espinha. Os sintomas da doença incluem fraqueza e rigidez muscular, problemas com equilíbrio e coordenação, além de distúrbios da visão e dormência.
O interesse nas potenciais propriedades neuroprotetoras da curcumina aumentou depois que pesquisas observaram um baixo índice de doenças neurológicas, como o mal de Alzheimer, em idosos da Índia, onde o curry é muito utilizado. Além disso, outras análises confirmaram a curcumina como um agente antiinflamatório potente, eficaz na cicatrização de ferimentos. No outono passado (no Hemisfério Norte), cientistas da Universidade da Califórnia, Los Angeles, indicaram que o tempero parecia retardar o avanço de Alzheimer em camundongos.
Nesse mais recente estudo, que durou 30 dias, Natarajan e o co-pesquisador John Bright deram injeções de 50 e 100 microgramas de doses de curcumina, três vezes por semana. A substância foi usada em um grupo de ratos criados para desenvolver uma doença chamada de encefalomielite auto-imune experimental (EAE)- uma condição auto-imune usada pelos cientistas como um modelo de esclerose múltipla, que também reduz a desagregação da mielina. Eles observaram os sinais do problema neurológico nos animais.
No 15o. dia, os camundongos que não receberam a curcumina desenvolveram a EAE, ficando com os membros traseiros paralisados, segundo Natarajan. Ao contrário, os ratos que receberam a dose de 50 microgramas do componente do curry demonstraram apenas poucos sintomas, como rigidez temporária da cauda. Os animais que receberam 100 microgramas aparentavam estar sem nenhum problema durante os 30 dias da pesquisa. Os resultados não surpreenderam Natarajan. "Em países asiáticos, como Índia e China, que consomem muita comida com especiarias, mais substâncias amarelas como curcumina... há apenas registros raros de esclerose múltipla", afirmou. Ele disse que as doses recebidas pelos animais eram aproximadamente equivalentes em termos humanos àquelas usadas em uma dieta típica indiana.
Como a curcumina funciona para impedir a progressão da enfermidade não está claro. Mas os pesquisadores de Nashville acreditam que o tempero pode interromper a produção de IL-12, uma proteína que tem um papel importante na hora de alertar as células imunológicas para lançar seu ataque na bainha da mielina. "Temos que trabalhar mais com isso", ressaltou Natarajan, incluindo a análise de outros mecanismos potenciais pelos quais a curcumina retarda a EAE e, possivelmente, a esclerose múltipla.
O estudo é preliminar, e os pacientes com esclerose múltipla devem seguir as recomendações médicas durante o tratamento da enfermidade. Natarajan disse que acrescentar um pouco de curry à alimentação não faz mal. "Acho que usar essa especiaria na comida deles pode ser útil."
