Em um estudo com resultados que contrariam os de pesquisas anteriores, uma equipe de cientistas verificou que a maconha não reduz os sintomas dolorosos frequentes da esclerose múltipla (EM).O pequeno estudo constatou que uma forma sintética do tetrahidrocanabinol (THC), o ingrediente ativo da maconha, e um extrato da planta não proporcionaram resultados superiores aos produzidos pelo placebo no alívio dos espasmos severos ou das contrações musculares. A tonicidade muscular dos pacientes melhorou quando eles usaram maconha, mas a avaliação feita pelos próprios doentes, segundo uma escala que mede a incapacidade geral, foi pior.
Embora a maconha seja considerada segura, alguns voluntários apresentaram efeitos colaterais sérios, como dor de cabeça e tontura, principalmente após usar o extrato vegetal, segundo artigo publicado na edição de 14 de maio da revista Neurology.
A EM é um distúrbio neurodegenerativo em que ocorre a lenta destruição da bainha de mielina, uma fina camada protetora que recobre as fibras nervosas no cérebro e na medula espinhal. O distúrbio pode provocar perda de sensibilidade, fraqueza e rigidez muscular, perda da visão e problemas de coordenação.
Uma pesquisa anterior feita com camundongos indicou que a maconha poderia ajudar a aliviar os espasmos dolorosos. No entanto, a quantidade de droga aplicada aos roedores não poderia ser tolerada por humanos, explicaram os cientistas. O estudo incluiu apenas 16 pacientes, mas é a maior pesquisa aleatória com teste clínico controlado a investigar o uso de maconha no tratamento da EM.
"Comparado ao placebo, o THC e o extrato vegetal não reduziram os espasmos", disse Joep Killestein, do Centro Médico VU, em Amsterdã (Holanda), à Reuters Health. "Mesmo considerando que o tamanho da amostra é muito pequeno para ser conclusivo, nosso trabalho é o maior e mais longo estudo sobre a terapia de canabinóides para tratar a EM realizado até o momento."
Os autores sugeriram que a dose usada no estudo pode ter sido muito pequena para apresentar qualquer efeito benéfico e que a administração da droga em forma de cápsula também pode ter reduzido a absorção. "O THC é absorvido razoavelmente bem nos intestinos, mas o processo é lento", explicou a equipe de Killestein.
No trabalho, os pacientes usaram placebo, extrato vegetal de maconha ou THC sintético durante quatro semanas. Os pesquisadores mediram o tônus muscular e a incapacidade geral, e os pacientes responderam a perguntas para avaliar a qualidade de vida.