Dores nas costas, estomacais e enxaqueca estavam relegadas ao segundo plano até pouco tempo. Atualmente, no entanto, alguns hospitais já contam com centros especilizados para tratar a dor, que também passou a ser considerada um importante indicador de saúde. Esses serviços especializados, ainda raros no país, atendem pacientes com todos os tipos de dor. Há aquelas relacionadas a doenças crônicas como câncer e Aids, dor nas costas e enxaqueca, algumas ligadas a traumatismos ao pós-operatório, entre outras.
Formados por uma equipe multidisciplinar - composta por médicos de diversas especialidades, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas -, os centros têm uma visão global do paciente, para abordar os diversos aspectos envolvidos na dor, como físicos, psicológicos, familiares e sociais.
No Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, é rotineira a análise da sensação dolorosa durante o exame do paciente. A avaliação da dor pelo médico foi integrada à prática de medir a pressão sanguínea, a frequência cardíaca, a temperatura e a frequência respiratória, os chamados quatro sinais vitais. "Desde 1994, avaliamos a dor como o quinto sinal vital do paciente. Mas isso ainda está restrito a alguns hospitais", disse à Reuters o anestesiologista João Valverde Filho, do Serviço de Tratamento de Dor do hospital.
A prática também foi adotada, no ano passado, pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, segundo o anestesiologista Renato da Costa, chefe da Clínica de Dor. "Hoje, a dor é tão importante quanto os outros sinais", disse ele. Grave problema de saúde pública, a dor é a razão principal pela qual 80% das pessoas procuram o sistema de saúde. No entanto, o problema é negligenciado por grande parte dos médicos e da população, que muitas vezes não sabe que pode e deve procurar tratamento em serviços especializados.
"Atualmente, tratamos a dor de forma totalmente inadequada", afirmou Costa. Na opinião de Sandra Colei, chefe do Serviço de Terapia de Dor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, é importante tratar o paciente como um todo. "Se cuidarmos de todos os aspectos, o tratamento será completo."
Nos centros especializados, as pessoas têm à disposição um arsenal de recursos para combater o problema, que vai desde analgésicos comuns até equipamentos especiais e psicoterapia em grupo. "O tratamento psicológico é fundamental, por exemplo. Não se trata a dor sem se tratar a mente. Muitas vezes, o paciente com dor é depressivo e tem uma expectativa de vida ruim", disse Costa.
O resultado é o alívio da dor e uma melhora na qualidade vida do paciente, além de menores custos e menos complicações, destacou João Valverde. "Em pacientes no pós-operatório, por exemplo, o tratamento da dor torna a recuperação mais rápida." Segundo Coeli, ainda é preciso entender que não é normal sentir dor e deve-se suprir a falta de conhecimento dos profissionais que têm contato com os pacientes. "Também faz parte do tratamento a educação das pessoas. E ainda falta informação para os profissionais de saúde, com disciplinas sobre dor nas faculdades", afirmou.
O clínico psicoterapeuta João Augusto Figueiró, coordenador da organização não-governamental (ONG) Aliviador, destacou que, das cerca de 100 faculdades de medicina do país, apenas quatro têm matérias específicas sobre dor no currículo. "Das escolas de enfermagem, só a da Universidade de São Paulo aborda o tema", disse ele.
A ONG, que pretende orientar profissionais e população, vem promovendo caravanas em grandes cidades brasileiras para divulgar informações sobre a dor. "Até outubro, pretendemos passar pelas 50 maiores cidades do país", afirmou Figueiró. Uma cartilha sobre dor para o público leigo também está sendo elaborada pela organização e deve começar a ser distribuída em maio, segundo ele, que integra uma comissão de especialistas que vai orientar o Ministério da Saúde na implementação de um programa de assistência especializada em dor, criado no início do ano.