Trabalhadores encarregados de realizar a mesma tarefa repetidamente ao longo do dia podem se beneficiar de uma soneca à tarde, disseram pesquisadores norte-americanos. "Tire um cochilo ou mude o que está fazendo," aconselha a coordenadora do estudo, Sara C. Mednick, da Universidade Harvard, em Cambridge (Massachusetts). Na edição antecipada on-line da revista Nature Neuroscience, a equipe de Mednick afirmou que as pessoas que realizaram um teste de percepção visual diversas vezes ao dia apresentaram um desempenho pior à medida que o dia avançava. Isso só não ocorreu com os voluntários que cochilaram à tarde ou que mudaram a natureza da atividade que desempenhavam.
Não se sabe por que a soneca ajuda, mas um cochilo curto e tranquilo parece proporcionar benefícios substanciais, disse a pesquisadora. "Se alguém quiser pegar meu artigo e mostrar ao chefe, sinta-se à vontade," afirmou Mednick, aos risos. No estudo, os pesquisadores analisaram o efeito que as sonecas produziam em pessoas que realizavam uma atividade no centro de uma tela de computador, enquanto, simultaneamente, identificavam letras que apareciam no canto esquerdo inferior da tela.
Trinta participantes fizeram o teste visual quatro vezes durante o dia. Os voluntários que não puderam tirar uma soneca tiveram uma queda de 52 por cento na velocidade da percepção visual -- o que significa que a percepção "piora cada vez mais" no decorrer do dia, afirmou Mednick.
Por outro lado, as pessoas que cochilaram por 30 minutos às 2 horas da tarde, antes do terceiro teste, não apresentaram diminuição na percepção durante as duas avaliações finais, em comparação com o grupo sem descanso. Os participante que tiraram uma soneca de 60 minutos não mostraram nenhuma deterioração e tiveram desempenho tão bom nos testes finais quanto nos feitos pela manhã. Mednick disse não acreditar "definitivamente" que os benefícios das sonecas se aplicam apenas às pessoas que realizam atividades visuais. Na opinião da pesquisadora, eles são válidos também para outras tarefas repetitivas. Ela disse, por exemplo, que soube de músicos que afirmam que as mãos ficam dormentes e perdem a sensibilidade quando eles praticam o instrumento o dia todo.
"Acredito que essa é uma área muito ampla," afirmou Mednick. Um estudo anterior havia mostrado que o sono pode ser vital para a retenção de determinados tipos de memória. Mednick informou que a queda de performance pode ser decorrente da fadiga de uma área do cérebro que está sob estimulação contínua.
Em outro experimento, no quarto teste do dia, os participantes tinham de identificar letras que apareciam em regiões diferentes da tela, o que estimulava outras áreas do cérebro. O grupo em que havia mudança da região onde apareciam as letras apresentou desempenho melhor que o das pessoas para as quais o teste não mudou, embora os membros das duas equipes afirmassem sentir o mesmo nível de sonolência.
Para determinar qual aspecto do sono pareceu ser mais útil, Mednick mediu o tempo que pacientes que tiraram a soneca permaneceram em sono profundo, chamado de ondas lentas, e o período que apresentaram sono em que há movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês). Ao comparar os cochilos nos dias de teste à sonecas tiradas durante outro período, a equipe descobriu que as pessoas que tiraram sonecas experimentais de uma hora passaram significativamente mais tempo em sono de ondas lentas do que durante outros cochilos. O sono REM pareceu não diferir entre os dois períodos.
O resultado indica que o sono de ondas lentas é o que restaura a capacidade de uma pessoa durante a realização de tarefas repetitivas. Aponta ainda que o cérebro pode induzir o tipo de sono de que precisa para processar informações, disse a pesquisadora. Mednick reconheceu que poucos empregadores incentivam os funcionários a dormir durante o trabalho. No entanto, ela disse que a soneca pode não ser tão ruim assim. Winston Churchill (ex-primeiro-ministro britânico) e Napoleão Bonaparte (imperador da França) adoravam tirar uma soneca. A própria pesquisadora afirma que cochila durante uma hora no sofá do seu laboratório.