Um novo estudo feito em laboratório pode explicar por que as pessoas que tomam o remédio contra a gripe oseltamivir - que é comercializado com o nome de Tamiflu - são menos propensas a desenvolver complicações como a pneumonia. O medicamento foi aprovado em 2000 pela FDA (a agência norte-americana que regula alimentos e remédios) para prevenir e tratar a gripe. Estudos feitos com a droga mostraram que as pessoas que tomavam o Tamiflu tinham probabilidade menor de desenvolver pneumonia que aquelas que não usavam o medicamento. Enquanto a gripe é causada por vírus, a pneumonia é provocada pela bactéria "Streptococcus pneumoniae", que infecta os pulmões.
Ninguém sabia por que motivo a droga antigripal parecia reduzir o risco da infecção bacteriana, disse Rebecca Horvat, professora associada do Centro Médico da Universidade do Kansas, em Kansas City. Com a finalidade de desvendar essa relação, Horvat e N.A. Reed colocaram células do pulmão humano em contato com a bactéria da pneumonia em laboratório. Algumas das células haviam sido previamente infectadas com o vírus tipo A da gripe, enquanto outras permaneciam livres de infecção.
Os pesquisadores observaram que a bactéria aderiu muito mais facilmente às células infectadas com o vírus. Em três períodos após a contaminação das células com o vírus da gripe, 24, 48 e 72 horas, constatou-se que entre 4 e 10 vezes mais bactérias "S. pneumoniae" se fixaram tanto à superfície das células infectadas quanto à das não-infectadas.
Quando os pesquisadores adicionaram o Tamiflu às placas de cultura onde se encontravam as células, o aumento da capacidade de adesão bacteriana foi revertido. A quantidade do medicamento aplicada aos recipientes era equivalente àquela usada para tratar a gripe, disse Horvat. "O tratamento com o Tamiflu, nas mesmas doses usadas para combater a gripe, pode prevenir o aumento da adesão bacteriana e, talvez, evitar complicações pós-gripe como a pneumonia", comentaram os pesquisadores em um comunicado.
"A ação do medicamento é mais que antiviral", destacou Horvat. Atualmente, a pesquisadora planeja analisar como a droga evita a adesão das bactérias. A pesquisa recebeu fundos do laboratório Roche, fabricante do Tamiflu, e de outras companhias farmacêuticas, disse a pesquisadora. As descobertas foram apresentadas recentemente durante o encontro da Sociedade Americana de Microbiologia, em Salt Lake City, no Estado de Utah.