Um novo estudo, cujos resultados surpreenderam os pesquisadores, sugere que as mulheres que usam absorventes internos ou fazem sexo durante a menstruação teriam menos propensão de desenvolver endometriose. A pesquisa realizada com mulheres com e sem endometriose mostrou que aquelas que usavam exclusivamente absorventes internos eram menos propensas a ter a doença. Os resultados foram similares entre mulheres que mantinham relações sexuais pelo menos às vezes durante o período menstrual.
Contudo, as descobertas apenas estabelecem uma associação entre esses comportamentos e o baixo risco de endometriose, em vez de provar que o uso de absorventes internos e sexo na menstruação podem evitar a doença. "Pode-se dizer que... (as descobertas) abrem a porta para estudos futuros", disse o médico Harvey J. Kliman, da Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut.
Kliman, o autor sênior da pesquisa, disse à Reuters Health que as descobertas de sua equipe eram "bastante surpreendentes", levando em conta o que os pesquisadores sabem sobre o desenvolvimento da endometriose. A endometriose ocorre quando o tecido que reveste o útero (o endométrio) é encontrado fora do órgão -- geralmente nos ovários e nas trompas de Falópio e quase sempre fica na região pélvica. Normalmente, o endométrio se rompe e mensalmente é eliminado durante o período menstrual.
Mas o tecido endometrial na superfície externa do útero não tem saída e a área ao redor pode ficar inflamada e inchada, frequentemente causando dor. Especialistas acreditam que o refluxo do fluido menstrual - condição chamada menstruação retrógrada - contribui para a enfermidade. Qualquer coisa que intensificar esse fluxo, incluindo absorvente interno e sexo, poderia aumentar o risco de endometriose. Com o novo estudo, Kliman declarou que "estávamos absolutamente convencidos de que sexo durante a menstruação seria algo ruim".
Mas na pesquisa com mais de 2.000 mulheres, os cientistas verificaram o contrário. Ao perguntar às participantes sobre a atividade sexual, as mulheres com endometriose foram menos propensas a responder que faziam "às vezes" ou "com frequência" durante a menstruação, comparadas àquelas sem a condição. Elas também tendiam mais a "nunca" ou "raramente" fazer sexo nesse período, segundo os resultados publicados na edição de junho da revista Gynecologic and Obstetrical Investigation. A mesma situação foi observada quando as mulheres foram questionadas especificamente sobre orgasmo durante o ato sexual.
Os autores sugerem que ter um orgasmo na menstruação pode proteger contra a endometriose ao intensificar as contrações uterinas que expelem o fluxo menstrual. Em relação ao uso de absorventes internos, conhecidos como tampões, poucas mulheres com endometriose relataram usar exclusivamente esse tipo de absorvente atualmente e no passado-- menos de 12 por cento, comparadas aos 21 por cento das mulheres saudáveis. As que usavam os absorventes convencionais tinham mais que o dobro do risco de endometriose, mostrou o estudo.
A indicação de um efeito protetor dos absorventes internos "realmente nos surpreendeu", afirmou Kliman. Ele ressaltou, como explicação para essa ligação, que os absorventes internos podem ajudar a puxar os "resquícios" durante a menstruação, em vez de obstruir sua saída. Contudo, se os absorventes internos podem evitar a endometriose ainda não está claro. Além disso, o estudo se baseou na lembrança da mulher de seu histórico menstrual e sexual. E como os sintomas da endometriose incluem relação sexual e menstruação dolorosos, as aquelas com a condição podem evitar as relações sexuais durante a menstruação.
Mesmo assim, Kliman apontou que a pesquisa perguntou às mulheres sobre seu comportamento ao longo dos anos reprodutivos. Além do efeito protetor, Kliman afirmou que as descobertas devem ajudar a "livrar-se do medo" de que os absorventes internos contribuem para a doença. Ele disse que alguns especulavam que esse tipo de absorvente - que até a metade da década de 80 continha dioxina - pode promover a endometriose. "Isso (estudo) me faz pensar que os absorventes internos certamente não levam à endometriose", destacou o pesquisador. "Acredito que posso dizer com certeza."