Os danos associados à diminuição leve da capacidade de raciocínio - que, em geral, é precursora do mal de Alzheimer, doença responsável pela perda de memória - parecem ser passíveis de identificação por meio da urina, informaram pesquisadores da Universidade da Pensilvânia. Os resultados do estudo poderão, no futuro, dar origem a um exame simples de urina capaz de indicar as pessoas com risco maior de desenvolver Alzheimer, segundo artigo publicado na edição de junho da revista Archives of Neurology."Esse é o primeiro exame não-invasivo que pode prever o diagnóstico clínico da doença de Alzheimer", afirmou Domenico Pratico, um dos autores da pesquisa, em declaração veiculada pela universidade. "Como não há cura para o Alzheimer, os médicos podem reduzir a progressão do distúrbio se o detectarem cedo o suficiente."
Atualmente, os médicos se baseiam nos sintomas para identificar a enfermidade, mas o diagnóstico é impreciso porque a demência pode ter outras causas nos idosos. O diagnóstico definitivo só é possível após a morte, quando a autópsia pode revelar a existência de depósitos cerebrais conhecidos como placas e nós, que são característicos da doença.
Em pesquisas anteriores, a equipe de Pratico já havia identificado níveis mais elevados de uma classe de substâncias químicas chamadas isoprostanos - ácidos graxos decorrentes do dano oxidativo do cérebro - no líquido cerebrospinal, no sangue e na urina de pessoas que receberam diagnóstico de Alzheimer.
O dano oxidativo é provocado por radicais livres, subprodutos do metabolismo natural do organismo que são capazes de danificar as células e que estão ligados ao surgimento de doença cardíaca e câncer. Para alguns pesquisadores, o dano oxidativo pode influenciar de alguma forma o desenvolvimento de Alzheimer.
No estudo atual, os cientistas avaliaram os níveis de um isoprostano específico no líquido cerebrospinal, no sangue e na urina de pessoas com prejuízo cognitivo leve (PCL). Segundo os autores do trabalho, pesquisas recentes sugeriram que o diagnóstico de PCL poderia indicar um risco de 50% de desenvolver o mal Alzheimer nos quatro anos seguintes.
No total, foram colhidas amostras de fluidos corporais de 50 pacientes com Alzheimer, de 33 pessoas com PCL, e de 40 idosos que apresentavam função mental normal. As taxas do isoprostano foram mais elevadas no líquido cerebrospinal, no sangue e na urina de pacientes com Alzheimer e com PCL do que nos fluidos dos voluntários saudáveis, indicou o trabalho.
Os resultados reforçaram a idéia de que o dano oxidativo é um sinal precoce de doença de Alzheimer, observaram os pesquisadores. A equipe de Pratico disse que mais estudos são necessários para determinar se o exame de urina realmente pode ajudar a identificar pessoas com risco maior de desenvolver o mal de Alzheimer.