A Unicef fez um alerta nesta quinta-feira, sobre a grave situação humanitária em seis países do sul da África, causada principalmente pela expansão do vírus da Aids e pela pobreza, que atinge 14,4 milhões de pessoas, das quais 7 milhões são menores de 18 anos e precisam urgentemente de ajuda.O representante regional da Unicef para a crise do sul da África, Sharad Sapra, explicou em entrevista coletiva que não é a seca a principal causadora desta situação e sim a pobreza e a epidemia de Aids, que estão dizimando a população ativa.
Embora as chuvas tenham demorado a chegar este ano, o problema das colheitas se deve à falta de mão-de-obra no plantio e na colheita já que são os homens entre 15 e 49 anos os mais atingidos pela Aids.
Segundo estimativas da Unicef, em função da taxa da doença em Lesoto, Malawi, Moçambique, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue, pode haver até 12 milhões de pessoas portadoras do HIV.
Isto supõe uma média de 21,3 por cento de sua população -porcentagem que chega inclusive a 50 por cento no caso de Lesoto-, embora não se disponha de informações detalhadas que permitam verificar estas cifras.
O que se sabe é que esta epidemia provoca anualmente a morte de pelo menos meio milhão de pessoas nesses seis países.
Esta incidência do vírus aumenta o número de crianças órfãs pela Aids -cerca de 4 milhões atualmente, com previsão de chegar aos cinco milhões em 2005- e de crianças com apenas 10 anos de idade que se transformam em chefes de família.
A Unicef estima que pelo menos dez por cento das residências em Suazilândia têm um menor de 15 anos como chefe de família.
Tudo isto leva à queda drástica da frequência às escolas, por isso a Unicef lançou, com o Programa Mundial de Alimentos (PMA), medidas nas escolas que consistem em proporcionar alimentos, remédios e educação às crianças que frequentem as aulas. A presença é uma condição indispensável para que suas famílias recebam ajuda.
Sapra explicou que desta forma é possível garantir que, pelo menos, durante seis horas diárias, as crianças estejam num ambiente adequado e recebam ajuda básica, buscando reduzir os altos níveis de desnutrição crônica entre menores daquele países, que chegam a 50 por cento.
Sapra explicou que uma força de trabalho constituída de crianças sem nenhuma preparação impossibilita que estes países realizem o plano de desenvolvimento africano, baseado num crescimento anual de sete por cento.
O especialista da Unicef insistiu na importância de trabalhar com crianças menores de 12 anos - já que são os que apresentam o menor nível de Aids - para ensinar-lhes como se prevenir da doença antes que entrem na idade sexualmente ativa.
"Os menores de 12 anos são a única esperança destes países", afirmou Sapra. Daí a importância de que a ajuda chegue não só de forma urgente mas contínua.
Atualmente, a escassez de alimento é o problema mais grave, especialmente agora que começa a pior época já que a próxima colheita será em março ou abril. Contudo, a falta de assistência médica e de serviços de saneamento contribuem para piorar o quadro.
Enquanto todas estas necessidade não forem satisfeitas, não será possível ajudar estas pessoas, especialmente os 2,3 milhões de menores de cinco anos que precisam de ajuda para sobreviver.
A Organização Mundial da Saúde estima que se não receberem ajuda imediata, mais de 300 mil pessoas podem morrer a curto prazo. A Unicef fez em julho deste ano um pedido de ajuda de 30 milhões de dólares, dos quais recebeu apenas um terço.