Pesquisadores têm obtido sucesso na prevenção da infecção de células saudáveis pelo HIV usando o próprio vírus da AIDS.A equipe de David Baltimore, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, nos EUA, conseguiu impedir que o HIV entrasse nas células do sistema imunológico ao expô-las a uma forma modificada do vírus, que poderia ingressar nas células, mas não as infectaria.
Essa forma modificada do HIV continha informações genéticas que, uma vez dentro das células saudáveis, impediu que uma proteína necessária ao vírus fosse gerada. Sem essa proteína, as formas não modificadas do HIV não conseguem entrar nas células que deveriam infectar, disse Baltimore. "É como se você pegasse o vírus e o transformasse nele mesmo", disse o pesquisador.
De fato, em experiências de laboratório com células do sistema imunológico humano, a equipe de Baltimore reduziu a produção da proteína de entrada do HIV a um décimo. Quando foram expostas ao HIV, o número de células imunológicas que normalmente seria infectado pelo vírus caiu a um terço ou até um sétimo.
Apesar de a técnica parecer promissora, Baltimore lembrou que ainda é experimental e não estará disponível para uso em humanos em um futuro próximo.
Muitos especialistas continuam preocupados com seu uso, por se tratar de uma forma de terapia genética. Teoricamente, quando o HIV modificado introduz novas informações genéticas nas células de sistema imunológico saudável, pode causar mutações potencialmente prejudiciais. Recentemente, autoridades de saúde ficaram alarmadas quando um menino curado por meio de terapia genética de um problema imunológico grave acabou desenvolvendo câncer.
Baltimore lembrou que, se os pesquisadores aperfeiçoarem a técnica, alguns pacientes poderiam optar pelo tratamento, mesmo sabendo dos problemas potenciais. "Os infectados pelo HIV podem estar dispostos a correr o risco", disse o pesquisador.
O objetivo do estudo foi simplesmente ilustrar que esse tipo de procedimento é possível, disse Baltimore. "Acreditamos ter conseguido provar nosso ponto de vista."
A equipe de Baltimore apresentou o trabalho na edição on line da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Uma pequena porcentagem das pessoas não apresentam a substância que o HIV usa para entrar nas células de defesa, a chamada CCR5. Esses indivíduos parecem perfeitamente saudáveis e são completamente resistentes à infecção pelo HIV. Esse fato responde a duas questões relacionadas à nova terapia, observou Baltimore: retirar o CCR5 de todas as células do sistema de defesa não causaria muitos danos; e segundo, a técnica poderia, teoricamente, evitar que pessoas fossem infectadas pelo HIV.
Baltimore acrescentou que o HIV pode também provocar mutações em si mesmo para usar outra substância para ingressar nas células. Ainda não está claro como isso poderia afetar a eficácia dessa técnica.