A compreensão de como os tumores conseguem escapar do ataque do sistema imunológico pode levar ao diagnóstico mais precoce de vários tipos de câncer - como de mama, pulmão e cólon - e também a novas possíveis maneiras de tratar a doença. E agora os cientistas deram mais um passo nesse sentido.
Sob a coordenação de Thomas Spies, do Centro Fred Hutchinson de Pesquisa sobre o Câncer, em Seattle (Estado de Washington), um grupo de pesquisadores descobriu que muitos desses tumores produzem níveis elevados de uma proteína chamada MIC, que pode entrar na corrente sanguínea. Por esse motivo, exames de sangue simples que detectem as taxas altas de MIC poderiam indicar a presença - ou recidiva - do câncer, disse Spies à Reuters Health.As novas descobertas, porém, ainda são preliminares, e outras pesquisas são necessárias para confirmar os resultados, comentou o pesquisador.
Na tentativa de entender como os tumores podem escapar da destruição pelas células do sistema imunológico, os cientistas descobriram que as proteínas MIC podem se ligar a receptores das células T - células do sistema de defesa do organismo que combatem o câncer - e impedir que essas células reconheçam e destruam o tumor.
Normalmente, níveis baixos de MIC, produzidos por células infectadas por vírus ou bactérias -- estimulariam esse ataque, mas as concentrações elevadas da MIC derivada do tumor parecem inibir a capacidade do sistema imunológico de destruir as células cancerosas. "Essa proteína está, basicamente, silenciando as células T", disse Spies à Reuters Health.
Essa descoberta contraria as expectativas, pois se acreditava que a presença da MIC na superfície das células tumorais sinalizasse para o sistema imunológico que aquelas células eram estranhas ao organismo e deveriam ser destruídas. Mas o câncer parece estar um passo à frente no jogo, "o tumor parece tirar proveito do sistema", disse Spies.
Os pesquisadores fizeram os experimentos com células tumorais e células T de 39 pacientes com tumores de mama, pulmão, cólon, ovários e pele (melanoma), segundo artigo publicado na edição de 17 de outubro da revista Nature.
Caso outros estudos confirmem esses resultados, isso pode preparar o terreno para o desenvolvimento de um novo medicamento contra o câncer que poderia inibir a liberação de MIC ou, de alguma maneira, impedir a ação dessa proteína sobre as células do sistema imunológico, explicou Spie.
É improvável, porém, que qualquer dessas drogas signifique a cura para o câncer. "O problema com os tumores é que eles combatem o sistema imunológico de diversas formas", disse Spies. "Essa é apenas uma delas."
Em um editorial que acompanha o artigo, Wayne Yokoyama, da Universidade de Washington, em St. Louis (Estado de Missouri), disse que os achados fornecem uma "nova pista sobre como combater as células tumorais, que há muito tempo enganam tanto o sistema imunológico quanto os imunologistas".