Medicamentos similares à talidomida, que foi retirada do mercado há quatro décadas por causar defeitos congênitos graves, têm propriedades anticâncer, anunciaram cientistas na terça-feira. Em um estudo publicado no The British Journal of Cancer, pesquisadores do hospital londrino St. George afirmaram que remédios parecidos com a talidomida podem reduzir a inflamação, reforçar o sistema imunológico para atacar o câncer e diminuir o fluxo sanguíneo do tumor.
"Esse grupo de drogas similares à talidomida parece ter propriedades bastante complexas e animadoras", apontou Keith Dredge, autor do estudo. A talidomida era usada na década de 50 e no início dos anos 60 para evitar náuseas em gestantes, mas os médicos verificaram que o remédio causava deformidades nos membros de recém-nascidos por limitar a circulação sanguínea.
Especialistas em câncer acreditam que a mesma propriedade causadora das deformidades poderia ser aproveitada para impedir o suprimento de sangue para o tumor.
Dredge e sua equipe analisaram diferentes versões de compostos chamados IMiDs e SelCIDs em estudos laboratoriais. Eles verificaram que ambas as substâncias eram dez vezes mais potentes do que a talidomida para impedir o crescimento de vasos sanguíneos.
Os medicamentos similares à talidomida foram desenvolvidos pela empresa de biotecnologia Celgene Corp., de Nova Jersey, EUA, que financiou a pesquisa.
Segundo Dredge, os novos compostos têm o potencial de estimular o sistema imunológico, o que ajudaria a evitar o câncer. "De modo oposto, a inflamação, que também ocorre naturalmente no corpo, pode contribuir para o desenvolvimento do câncer. Nossa pesquisa mostra que a medicação parecida com a talidomida pode reduzir a inflamação."
Cientistas também analisam a eficácia de usar a talidomida no tratamento do câncer de pulmão, pele, rim e mama. A Sociedade Talidomida, que representa as famílias afetadas pela droga, acredita que o medicamento deveria ser usado apenas como último recurso.