Os tratamentos para determinados tipos de tumores cerebrais podem ter efeitos negativos sobre a função mental a longo prazo, indica um novo estudo. De acordo com pesquisadores, os pacientes com tumores cerebrais de baixo grau de malignidade, tratados com antiepilépticos e altas doses de radioterapia, pareceram ter mais problemas de memória e atenção, comparados a um grupo que não recebeu esta terapia.Os pacientes que tinham diagnóstico anterior de tumor de cérebro também demonstraram prejuízos mentais maiores, comparados àqueles com tumores em outras partes do corpo. O estudo indicou que a maior parte do prejuízo mental foi provocada pelo tumor, não pelo tratamento, informou a equipe de Martin Klein, do Centro Médico Vrije Universiteit, em Amsterdã (Holanda).
A equipe informou, no entanto, que as pessoas com glioma, um tumor de baixo grau de malignidade, que recebem tratamento têm uma grande possibilidade de sobreviver por vários anos. Para os autores da pesquisa, os efeitos de longo prazo do tratamento deveriam ser avaliados.
"Nossos resultados indicam que o tumor em si tem o efeito mais deletério sobre a função cognitiva e a radioterapia resulta principalmente em problemas cognitivos adicionais de longo prazo, quando são usadas doses de alta fração", informou a equipe na edição de 2 de novembro da revista The Lancet. "Os efeitos de outros fatores médicos, especialmente o uso de antiepilépticos, sobre a função cognitiva de pacientes com glioma também merecem atenção."
Os cientistas testaram a função mental de 195 pacientes com glioma de baixo grau de malignidade. Deste grupo, mais da metade havia recebido radioterapia até 22 anos antes. Para comparação, os pesquisadores também avaliaram 100 pacientes com câncer sanguíneo de baixo grau de malignidade e 195 pessoas sem histórico de câncer.
Todos os pacientes com glioma, independentemente do uso de radioterapia, tiveram resultados piores do que outros pacientes com câncer e a discrepância aumentou quando eles eram comparados a quem nunca teve câncer.
Entretanto, os pacientes com glioma que nunca receberam radioterapia superaram o grupo submetido ao tratamento, especialmente com doses relativamente altas, indicou o estudo. Quem recebeu antiepilépticos para controle de convulsões também teve piores resultados nos testes de função mental.
Os autores recomendam que os médicos evitem o uso de radioterapia em pacientes mais jovens em estágios iniciais do glioma, pois neste momento os benefícios do tratamento não estão bem definidos. Caso a radioterapia seja necessária, a equipe sugere que os médicos usem uma dose relativamente pequena.