Há muito tempo, os cientistas sabem que as mulheres infectadas pelo papilomavírus humano (HPV) têm uma propensão maior a desenvolver câncer cervical ou de colo do útero. Agora, novas descobertas sugerem que esse risco pode aumentar mais ainda quando as pacientes têm tanto o HPV quanto o vírus do herpes genital.A equipe de Jennifer Smith, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer, em Lyon (França), constatou que as mulheres com HPV e herpes genital apresentavam uma probabilidade de duas a três vezes maior de desenvolver câncer cervical invasivo, em comparação com as pacientes infectadas apenas pelo HPV.
Esses resultados indicam que o vírus do herpes genital "pode elevar o risco de as portadoras do HPV desenvolverem câncer", disse Smith à Reuters Health.
Todas as mulheres incluídas na pesquisa tinham o vírus herpes simplex do tipo 2 (HSV-2), o principal causador do herpes genital. Essa forma de herpes é uma infecção incurável, que dura toda a vida e está intimamente associada à prática de sexo sem proteção. Em contraste, a infecção pelo vírus herpes simplex do tipo 1 (HSV-1) tende a causar pequenas feridas na área ao redor da boca, embora ele também possa contaminar os órgãos genitais.
No trabalho atual, a equipe de Smith testou novamente amostras de tecidos usadas em estudos feitos em sete países com a finalidade de investigar a ligação entre a infecção pelo HPV e o câncer cervical. Com a finalidade de detectar anticorpos contra o HSV-2, os pesquisadores examinaram amostras de sangue de 1.263 mulheres com câncer de colo do útero e de 1.117 pacientes de idade semelhante, mas livres da doença. As pacientes eram da Tailândia, das Filipinas, do Marrocos, do Peru, do Brasil, da Colômbia e da Espanha.
Smith e seus colaboradores descobriram que cerca de 44 por cento das mulheres diagnosticadas com câncer cervical também apresentavam sinais de infecção pelo HSV-2, enquanto 26 por cento das pacientes sem câncer eram portadoras dos anticorpos contra esse vírus.
O exame do tecido cervical da grande maioria (mais de 90 por cento) das pacientes com câncer de colo do útero deu resultado positivo para o HPV. O vírus foi detectado em apenas 15 por cento das mulheres saudáveis, observaram os autores no estudo, publicado na edição de novembro da revista Journal of the National Cancer Institute.
Em entrevista à Reuters Health, Smith disse que a maioria das mulheres que se torna infectada pelo HPV não desenvolve câncer de colo uterino. Por esse motivo, há algum tempo, os pesquisadores investigam se fatores adicionais poderiam ajudar a explicar por que somente algumas pacientes desenvolvem esse tipo de câncer.
Com base nos resultados do estudo atual, Smith sugere que o HSV-2 pode simplesmente atuar como um dos muitos fatores que elevam o risco do câncer cervical em mulheres com HPV. Outros fatores de risco incluem o uso prolongado de anticoncepcionais orais, o tabagismo, e o fato de ter muitos filhos. Descobertas recentes, porém, indicam que a clamidíase, a infecção pela bactéria clamídia, pode atenuar o risco de câncer de colo uterino nas mulheres com HPV.
"O herpes é um co-fator entre outros vários que elevam o risco de câncer invasivo", afirmou Smith.
Ainda permanece obscuro o motivo por que o HSV eleva o risco de câncer cervical, observou a pesquisadora. As úlceras provocadas pelo HSV-2 podem ajudar o HPV a entrar furtivamente na camada de tecido do colo do útero onde o câncer surge, comentou Smith. O HSV-2 pode também provocar inflamação, que pode gerar danos no DNA e, em última análise, o câncer.
Infelizmente, nem todas as mulheres que deveriam ser examinadas para detectar a presença de câncer cervical são submetidas ao teste, acrescentou Smith. A pesquisadora sugere que os profissionais de saúde dos países em que nem todas as pacientes são testadas passem a dedicar atenção maior às mulheres com risco mais elevado de desenvolver a doença, como as portadoras tanto do HPV quanto do HSV-2.