Taxas elevadas de uma proteína encontrada em tumores de mama podem indicar as mulheres que apresentam uma probabilidade menor de sobreviver à doença, sugere um estudo preliminar.Pesquisadores descobriram que ter níveis altos da proteína ciclina E é um indicador mais eficaz do prognóstico das pacientes que os métodos tradicionalmente utilizados, como a avaliação da disseminação do câncer de mama para os linfonodos.
O teste poderia ser especialmente útil para identificar uma pequena porcentagem de mulheres com câncer em estágio inicial (estágio 1) que apresentam prognóstico ruim, disse a coordenadora do estudo, Khandan Keyomarsi, à Reuters Health.
Keyomarsi salientou, porém, que é necessário aguardar os resultado de outras pesquisas, ainda em andamento, antes que exames para detectar os níveis da ciclina E possam ser aplicados.
"Nossa esperança é ter um marcador que identifique as mulheres com melhor ou pior prognóstico", disse Keyomarsi, que trabalha no Centro do Câncer M.D.Anderson, da Universidade do Texas, em Houston. A equipe da pesquisadora relatou esses resultados em artigo publicado na edição de 14 de novembro da revista New England Journal of Medicine.
Estudos anteriores haviam indicado que a expressão da ciclina E estaria aumentada em células do câncer de mama. Normalmente, a proteína ajuda a regular a divisão celular, que ocorre continuamente no organismo. Quando a proteína é produzida em grande quantidade, porém, as células se tornam incapazes de parar de se dividir -- um efeito que Keyomarsi compara a um "carro sem freios". A divisão descontrolada e disseminação dessas células anormais são dois dos fatores que caracterizam o câncer.
Apesar desses resultados, não estava claro se os níveis de ciclina E em células de câncer de mama tinham algum valor prognóstico.
No estudo atual, a equipe de Keyomarsi analisou amostras de tumor de 395 mulheres que receberam diagnóstico de câncer de mama entre 1990 e 1995. Os pesquisadores descobriram que as pacientes com níveis elevados de ciclina E corriam um risco mais de 13 vezes maior de morrer em 6 anos que as mulheres com níveis baixos da proteína.
Entre as 114 mulheres com câncer em estágio 1, doze apresentavam níveis elevados de ciclina E de baixo peso molecular -- uma forma menor e "hiperativa" da proteína. Todas morreram até 5 anos após o diagnóstico da doença, enquanto as demais pacientes com a enfermidade em estágio inicial continuavam vivas.
De um modo geral, os níveis elevados de ciclina E indicaram um prognóstico ruim para as pacientes com câncer de mama em estágio 1, 2 ou 3 -- no estágio 3, o tumor é grande e já se espalhou por linfonodos próximos.
Os níveis de ciclina E podem, no entanto, se mostraram particularmente úteis para identificar cerca de 10 por cento das pacientes com doença no estágio 1 que não respondem bem ao tratamento, segundo Keyomarsi. Nessa fase da doença, o tumor não se disseminou para os linfonodos e, por esse motivo, não é possível usar o método tradicional que avalia o grau de comprometimento dessas estruturas para fazer o prognóstico das pacientes.
Se estudos posteriores confirmarem o valor prognóstico dos níveis de ciclina E, esses testes poderão ser usados para decidir quais são as mulheres que precisam receber um tratamento mais agressivo e aquelas que podem ser poupadas de uma "quimioterapia pesada," disse Keyomarsi.
A ciclina E também aparece em outros tumores, mas ainda não se sabe se a proteína pode indicar o prognóstico da doença nesses outros tipos de câncer, comentou a coordenadora do estudo. Pesquisas futuras deverão descobrir isso, disse Keyomarsi.
Um editorial sobre a pesquisa, publicado na mesma edição da revista, afirma que o risco de morte por câncer de mama associado a níveis elevados de ciclina E é "significativamente maior" que o indicado por outros fatores de prognóstico.
"Sem dúvida", esse estudo vai estimular a investigação sobre o papel que a ciclina E e moléculas semelhantes desempenham no câncer de mama, escreveram Robert L. Sutherland e Elizabeth A. Musgrove, do Instituto Garvan de Pesquisas Médicas, em Sydney (Austrália).