Uma nova droga capaz de cortar o suprimento de sangue necessário para o crescimento dos tumores mostrou-se surpreendentemente eficaz durante testes preliminares feitos com humanos. O medicamento, ainda experimental, diminuiu à metade o tamanho do câncer em 25 por cento dos pacientes tratados, informaram pesquisadores na quarta-feira. A equipe de Eric Raymond, do Instituto Gustave Roussy, em Villejuif (França), deu a droga, conhecida apenas pelo código SU011248, a pacientes afetados por vários tipos de câncer que não respondiam ao tratamento padrão."Nessa situação, qualquer atividade é muito promissora já que todo o resto falhou. Mas não esperávamos verificar respostas tão intensas em vários tipos de câncer", afirmou Raymond durante um encontro sobre terapia contra o câncer, realizado em Frankfurt (Alemanha). Inicialmente, os pesquisadores achavam que a droga conseguiria apenas estabilizar o tamanho dos tumores, em vez de fazê-los encolher.
"Ficamos surpresos com a resposta do primeiro paciente. Em seis meses, houve uma redução de mais de 50 por cento no tamanho dos tumores de uma pessoa com câncer renal recorrente e que já tinha apresentado tumores secundários nas glândulas supra-renais e nos pulmões. O paciente não havia respondido à imunoterapia." A SU011248 é um inibidor do sinal de transdução que age contra várias enzimas envolvidas na angiogênese, processo de formação de vasos sanguíneos. A droga vem sendo desenvolvida pela Sugen, empresa do grupo Pharmacia, na Califórnia.
Na fase 1 dos testes clínicos, 25 pacientes receberam o medicamento por via oral durante quatro semanas, em doses que variaram de 50 miligramas (mg) a cada dois dias a 150 mg diários. Em 6 dos 23 pacientes avaliados - cerca de um em cada quatro - os tumores encolheram 50 por cento ou mais.
"É bastante", disse Raymond à Reuters Health. "Em testes de fase 1, a expectativa é uma resposta de menos de 5 por cento."
A dose diária de 50 mg foi bem tolerada, mas dosagens mais elevadas provocaram fadiga incapacitante. Os pesquisadores constataram que, temporariamente, o medicamento acumulou-se sob a pele, tornado-a amarelada. Os cabelos de alguns pacientes ficaram brancos. Os pesquisadores acreditam que alguns efeitos adversos observados decorrem do fato de a droga levar o tumor à morte rapidamente.
"Essa é uma das primeiras drogas angiotóxicas com efeitos antitumorais. De fato, em alguns pacientes que receberam doses mais altas, apareceram muitos efeitos que provocaram necrose do tumor e exigiram tratamento cirúrgico", disse Raymond. O bloqueio do crescimento de vasos sanguíneos no câncer é um enorme campo para a pesquisa há anos, mas o conceito não sobreviveu às promessas iniciais. Os cientistas acreditam que essa droga possa funcionar onde outras falharam por atacar várias defesas do câncer, simultaneamente.
"O tumor tem cerca de dez tipos diferentes de proteção e você ataca um a um", explicou Michael Caligiuri, professor de medicina interna do Centro Integral do Câncer da Universidade do Estado de Ohio, que não participou do estudo. "Trabalha-se com múltiplos mecanismos, não apenas contra a angiogênese, mas incorpora um outro componente e um segundo elemento. Provavelmente também um terceiro componente e talvez até um quarto através da combinação dessas coisas."