As mulheres que apresentam uma determinada "assinatura" genética nas células do câncer de mama têm cinco vezes mais chances de apresentar metástases em outras regiões do corpo após a remoção do tumor, informaram pesquisadores.Apesar de ser mais exato do que as técnicas disponíveis hoje para prever o desenvolvimento do câncer, o pesquisador Rene Bernards, do Instituto Holandês do Câncer, em Amsterdã, disse à Reuters Health que o método "pode não ser totalmente preciso."
Ele informou ainda que o sistema de "assinatura genética" provavelmente não estará disponível para outros países nos próximos anos, mas poderia ser uma opção para mulheres com câncer de mama na Holanda.
Os métodos disponíveis para prever o desenvolvimento de um tumor incluem a idade da mulher, tamanho do tumor e comprometimento dos nódulos linfáticos, sinal que geralmente indica se o câncer atingirá outras regiões do corpo.
O acréscimo dessa técnica genética aos métodos clássicos vai aprimorar a exatidão com que os médicos podem prever o desenvolvimento da doença e possibilitar que os pacientes "tomem decisões conscientes" sobre os tratamentos que desejam adotar além da cirurgia, disse Bernards.
O estudo, publicado na edição de 19 de dezembro do New England Journal of Medicine, validou uma técnica recomendada para examinar os padrões genéticos do câncer de mama.
Em janeiro, o mesmo grupo de autores publicou resultados preliminares descrevendo um "padrão de atividade genética" que parece estabelecer uma distinção entre formas de tumores mais agressivas. Os pesquisadores desenvolveram o padrão após avaliar 25 mil genes em amostras de tumores de mama e identificar 70 que se apresentam ativos apenas nas formas muito agressivas de câncer de mama.
A pesquisadora Laura J. van't Veer disse à Reuters Health que quase todas as mulheres afetadas pela doença são tratadas como se tivessem uma forma agressiva de tumor, com chances de se disseminar pelo corpo. Entretanto apenas um terço das pacientes apresentou metástases distantes, ou seja, câncer infiltrado em outras áreas, ressaltou a cientista.
Segundo van't Veer, a maioria das mulheres pode ser submetida a tratamentos desnecessários, como quimioterapia e hormônios, ambos com efeitos colaterais significativos.
Nesse trabalho, Bernards, van't Veer e equipe testaram padrões genéticos já desenvolvidos em 295 pacientes com câncer de mama em estágio inicial.
O teste indicou que 180 mulheres tinham um prognóstico ruim de desenvolvimento do câncer e 115 deveriam enfrentar bem a doença. A presença da metástase em nódulos linfáticos não interferiu nos resultados.
A maioria das mulheres cuja doença atingiu os nódulos e apenas uma fração das pacientes sem esse comprometimento foi tratada com quimioterapia, hormônios ou ambas as terapias.
Dez anos depois, apenas 55 por cento do grupo com prognóstico ruim havia sobrevivido, comparados a 95 por cento das pacientes com boa perspectiva de enfrentar o mal, indicou o trabalho.
Bernards lembrou que o perfil genético usado no estudo poderia oferecer novos alvos a ser atingidos pelos medicamentos e ajudar os médicos a planejar tratamentos mais adequados ao perfil genético da paciente. Dessa forma, seria possível optar submeter ou não o paciente à quimioterapia e escolher o tipo de remédio mais adequado a cada paciente, explicou o especialista.
Em editorial, Anne Kallioniemi, da Universidade de Tampere, na Finlândia, avaliou que o teste permanece sendo um "excelente ponto de partida para o trabalho destinado a prever o comportamento de um tumor." Entretanto são necessários mais estudos antes de disponibilizar o exame para as pacientes.
Kallioniemi lembrou que as doentes receberam tratamento adicional a partir da avaliação do estado dos nódulos linfáticos e não devido ao prognóstico apontado pelo teste.